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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Cartilha Ambiente Vivo

















Cartilha Ambiente Vivo - editora CONECTA , distribuida para acervos da Alemanha, Japão, Bolívia, Argentina, Chile...
A Cartilha AMBIENTE VIVO foi publicada em 2002.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Carta recebida

À Acadêmica e Escritora, atenciosas saudações!

Tive o grato prazer de receber a história narrada da vida sentida, emocionante, e, ao mesmo tempo, nobre e amorosa, de nossa distante colega Silmara Retti, tão amorosa, e bela, que só Deus pode julgar o seu começo, suas consequências e até o seu próprio fim que nos pareceu uma singular lição de vida e do amor do ser humano.Fiquei triste em pequenas narrações, mas satisfeito na bela apresentação do seu livro, tão bem escrito e delineado nos momentos de uma afeição tão pura, não esquecida nos traços, e, exemplo de uma lição da Vida e do Amor.Do colega,
Ítalo Saldanha da Gama- Academia Pan Americana de Letras e arte -
Rio de Janeiro -

Carta recebida

Prezada escritora, parabéns pelo seu excelente trabalho. A eficiência e a qualidade das obras em si causam uma impressão muito boa; muito positiva. Vc realmente é uma excelente escritora e grande ilustradora, que se destaca brilhantemente no cenário literário nacional e internacional. Desejo-lhe muito sucesso em sua vida particular e profissional.
Profa. Maria de Fátima Cavalcante-
Brasília - DF

Carta recebida

Querida Silmara, o seu livro O Louco da Rua Encantada é emocionante.Vc teve muita coragem ao escrevê-lo , pois um amor tão louco não é fácil de desnudar para as outras pessoas.Compreendo o teu sofrimento porque também eu já sofri por amor nesta minha longa vida. Grandes almas a de vcs - a sua e a dele, mesmo obscurecida pela doença. Ficaram como recompensa dois filhos maravilhosos frutos de um amor que venceu na vida e se eternizou na morte! parabéns, Silmara.Abraços,
Nola Longo
Porto Alegre -

Carta recebida

Parabenizo o Brasil por contar ainda com a força humanitária de Silmara, em prol da natureza que cambaleia aos golpes do homem irresponsável e sem cabresto...Sobre o romance O Louco da Rua Encantada, digo: é lindo.Continue produzindo, para a riqueza de nossa literatura no ramo.Abraços,
Raul Pereira Monteiro
Bairro dos Estados - João Pessoa

Carta recebida

Parabéns, continue...É de pessoas dessa estirpe que o Brasil precisa.É a comunicação diretam sem usar perifrases e facilitando a compreensão.Espero conhecer outras obras suas, oportunamente.Estou felicíssimo por saber que a Autora nasceu na vizinha cidade, tão acolhedora de Valentim Gentil. Sem mais, para o momento, despeço com o leal abraço.Atenciosamente,
Prof. Dr. José Carlos Rossato - Votuporanga

Carta recebida

Agradeço imensamente a gentileza do envio da edição pedagógica acerca do meio ambiente, de iniciativa da Prefeitura Municipal de Ubatuba.Parabenizo a todos os envolvidos pelo maravilhoso trabalho e transmito ao prezado Prefeito meus mui cordiais cumprimentos.

Gilberto Giusti

Carta recebida

Recebi a Agenda "Bom dia, Ubatuba" que me foi tão gentilmente ofertada.Queira transmitir ao excelentíssimo Prefeito meus sinceros agradecimentos por uma Agenda tão interessante e portadora de um pouco da história e da tão encantada beleza do município de Ubatuba.
Ronald Davidson
Cônsul do Canadá

Carta recebida

Com meus mais cumprimentos, venho através da presente, agradecer o envio da agenda "Bom dia, Ubatuba", de sua autoria.Receba os nossos protestos de elevada estima e distinta consideração.
Freddy Balzan
Embaixador Cônsul da Venezuela -

Carta recebida

Prezada Silmara, adorei seu conto "Flor de Cinzas".Estilo fácil e comunicativo.Fazia tempo que não acessava o site literário que tem muito texto seu.
Saudações, Valdemar -
Fortaleza -

Carta recebida

Ilma. Sra. Escritora,

Embora esteja lhe escrevendo pela primeira vez, tenho a satisfação de como se já fôssemos velhos correspondentes.Ilustríssima senhora, admiro sua coragem, dedicação e firmeza.Minhas cordiais saudações, aqui subscrevo.
Cícero Pedro de Assis-
São Paulo

Carta recebida

Prezada Silmara, sempre é bom conhecer novos autores. Fiquei muito comovido com o livro O Louco da Rua Encantada .Vc consegue contar a sua história, destacando o mais importante nos fatos.Sabe emocionar, usa até humor e de modo simples conta algo que nos toca e faz pensar.Li tudo de uma vez, curioso para saber como terminaria.Ao final, meus olhos estavam rasos d'água.Depois vi sua foto e li alguns dados biográficos.Achei-a uma pessoa de espírito claro, muito simpática.Seu aprendizado não foi em vão.
Continue o seu trabalho pela ecologia e pela cultura.O mundo precisa muito disso.
Pacheco-
Cidade de Esmeralda/ São Paulo

Carta recebida

Prezada Silmara,
Recebi seus livros.O conto é muito bom.A cartilha Ambiente Vivo está muito bem planejada para os pequenos, inclusive, vou mostrá-la para os professores das séries iniciais.É interessante, é acessível e verdadeira. Saudaçõs literárias!
Iva da Silva
São Francisco de Paula -

Carta recebida

Prezada Silmara, seu livro me emocionou e me entristeceu.O destino de Fábio Retti foi raro hoje em dia, com melhores medicações antiesquizofrenicas.O livro é um libelo de amor e de dedicação humana da melhor qualidade.Parabéns!

Marco Aurélio Baggio
Membro da Academia Mineira de Medicina -

Carta recebida

Cara escritora, que bonito o seu trabalho!
Devo dizer que todas as pessoas que cultivam a natureza e proteje o meio ambiente são pouco deuses.Aqui estamos para o que precisar!
Dalva Meirelles
Cascadura-RJ

Carta recebida

Prezada Silmara, agradeço o livro, as palavras carinhosas e a confiança nesta nova empreitada.Sabemos que a educação é a base, é farol que ilumina aqueles que iluminarão o mundo.
Atenciosamente, Gabriel Chalita

sábado, 22 de agosto de 2009

Apresentação do Projeto em São Paulo

COISAS DE MULHER*













O final de semana era um tormento na cabeça de Nicinha porque o maridão Oscar se embonecava todo no poleiro, só esperando dar meia-noite para sair batendo as asas e desencantar para o mundo.
Não adiantava reclamar, fazer chantagens ou dormir na casa da mamãe. A reunião com os amigos do boteco era sagrada e não tinha folga ou dia Santo.
Com lágrimas nos olhos ela gritava que Oscar não era mais aquele de antigamente e que havia se transformado em um monstro cruel.
Sentia-se uma pobre coitada e dona exclusiva de dois quilos de bob’s. Mas, pra quê? Simplesmente para que ele preferisse ficar na gandaia com um monte de homens peludos, voltando no outro dia cedinho com aquela cara de peixe frito como se nada tivesse acontecido!
Como ficaria o seu coração de mulher? Estraçalhado, é claro.
Então, só de birra, comia tudo o que tinha na geladeira, tentando vencer a solidão abraçada a uma panela de macarronada.
- Só você para me compreender, panelinha gostosa!
Oscar fazia chantagem, dizendo que voltaria para Minas Gerais , sozinho e assim Nicinha fingia em concordava com tantas picaretagens.
Ele sempre estava engomado; roupinha da moda, cabelinho com gel, sapato bico fino, desfilando pelos ladrilhos do quintal a procura da chave do fuscão dourado .
Ela nunca estava penteada, cheirosa ou sensual...Nicinha se resumia apenas numa camisola florida, um pouco manchada de cloro, um chinelo de dedos e perfumada naturalmente por cremes de cebola.
Pobre Oscar,era mais atraente encarar o padeiro da esquina que aquele trator empacado!
Às vezes passava de leve o olhar sobre a própria mulher e suspirava aliviado por saber que ainda tinha os amigos de boteco.
Não que desgostasse de Nicinha, pois sempre foi uma pessoa interessante e tinha lá a sua graça, mas de uns tempos pra cá relaxou de vez.
Ficou implicante, ranzinza e o único lugar que a deixava descontraída era a feira, onde soltava a voz brigando com os vendedores.
Depois voltava pra casa muito mais tranqüila.Com a gola do vestido toda suja de caldo de cana, se esbugalhava no chão da sala, folheando uma fotonovela antiga.
Os amigos de Oscar conheciam Nicinha apenas por fotografia, que foi tirada no baile de formatura e achavam que ela era um violão.
Na última briga, ela não quis saber de mais nada, arrumou as suas malas e evaporou para bem longe dali.
Enquanto o ônibus chacoalhava, a sua vida foi passando feito um filme diante de seus olhos e percebeu que também havia contribuído para o triste fim de um romance:
- As pessoas só fazem com a gente aquilo que permitimos, que deixamos acontecer e muitas vezes por falta de amor próprio...-concluiu.
Nicinha foi para casa da mamãe, apenas para dar um tempo e voltar muito mais poderosa.
Conseguiu emagrecer, mudando toda a sua alimentação. Deu um bom corte no cabelo e pintou de caju.Trocou todo o guarda-roupa no brechó da esquina e ressuscitou para o mundo.
Quando Oscar estava se engomando para mais uma noite no “crime” e viu aquela sereia de pernas cruzadas em sua cama, quase enlouqueceu.
Era um milagre da natureza!
- Que mulher é esta, meu Deus?
Lá estava Nicinha, totalmente renovada, pronta para arrepiar!Sair com os amigos peludos e cheirando a suor?! Nunca mais.
Aliás, agora Oscar só saia do quarto para pedir trégua, mas bem baixinho, de medo que alguém escutasse!


SILMARA RETTI -

Zé Vacilão...Quem, eu?!*


















Todo dia é mais um dia
De bastante agitação
Duas horas no chuveiro
Na maior ensebação!
Que delícia de água quente
Só no ritmo da canção
Som bem alto, se confundindo
Com o barulho da televisão.
Não faz mal que ta fresquinho,
Ligo também o ventilador
E se sentir um calafrio
É só me enrolar no cobertor.
Se bater aquela fome
Jogo tudo no liquidificador
Aproveitando a velha tomada
Que já está ligado o tostador.
Sou um consumidor fanático
Na minha casa é sempre assim
Nunca pensei no futuro
Pois ele não depende de mim.
Ligo tudo ao mesmo tempo
Deste luxo eu não abro mão;
Só não ligo o disconfiômetro
Quando me chamam de VACILÃO!
Que barato esta energia
Que custa tão caro ao país
Do meu bolso é que não sai
Pra azar do meu pai.
Eu não bobo, nem nada
Quero mesmo é consumir
Para o desespero dos meus amigos
Que não cansam de repetir:
Economizar não é viver no escuro
Triste, sem brilho, isolado
Nem ficar em cima do muro
Sem ação, alienado!
A energia é uma conquista
De toda a humanidade
Um bem comum que retrata
O progresso da sociedade.
Não quero ser mais chamado
De menino Vacilão
Agora eu to ligado
E tomei uma decisão:
Não desperdiço energia elétrica,
Numa atitude inteligente
De cuidar do nosso planeta
Respeitando o meio ambiente

E você, meu amigo,
Sei que também é capaz
Vem comigo, nesta parceria
Por compreender que é no dia-a-dia
Que iluminados um mundo de paz!

Silmara Retti -

Zé Mané e a Loira Assombrada*







Zé Mané era chamado exatamente assim porque sempre foi um bocó.Tinha esta fama difamada desde moleque e servia de chacota pra toda galera, que anunciava em praça pública a sua bobice aguda!
Era lerdo demais e dono de uma ingenuidade profunda, mas de um coração do tamanho do mundo!
Preguiçoso nunca foi. Acordava com as galinhas e também dormia com elas.Apesar de parecer meio abobado, diziam que era muito namorador e se apaixonava a toa, a toa, se transformando numa praga na cola da infeliz.E esta praga poderia ser qualquer uma que olhasse meio de banda, assim, torto.
Colocava na cabeça que ela tava dando “mole” e aí grudava como chicletes, não se fazendo de arrogado.Mandava beijinhos, flores do campo e até um bilhete de amor mal escrito por sua letra cheia de garrancho. Só que tanto atrevimento assim não era ameaça a nenhum casamento jurado e sacramentado pela confiança mútua, pois aquele sonso só fazia sucesso com a cachorrada da rua, que não largava do seu pé, mordendo a sua canelinha seca.
E por que “sonso”? Só porque era estranho, esquisito e diferente das outras pessoas? Que sociedade é esta que satiriza o que não lhe é semelhante sendo que ninguém é igual a ninguém? Então Zé Mané era considerado o bobo da corte e nem sabia.
Ele morava num barracão antigo e lá mesmo fazia suas coisinhas; lavava a roupa suja e cozinhava a sua própria gororoba.
Logo cedo colocava o pé na estrada, ciscando de lá para cá atrás de uma farra, uma brincadeira ou um tererê que lhe fizesse morrer de rir, sacudindo aquela pança gorda que era a alegria da galera.Foi nascido e criado numa aldeia de pescadores e conhecia cada palmo de chão, voltando para casa apenas no final da tarde, cansado de tanta sassarico.
Tudo ia muito bem até que um “causo” inédito acabou com o sossego da vizinhança.Era uma história macabra; daquelas de cair os dentes.Ouça só: “uma loira assombrada cismava em aparecer com o cabelo escorrido pelo corpo, andando de lá para cá no meio da mata, totalmente pelada. Pelada?! Isto mesmo, carregando apenas uma vela vermelha na mão.
As criancinhas não queriam mais ir para a escola e ninguém dormia como antes.Então fizeram uma reunião na penumbra da noite e decidiram que um homem forte e valente teria que dar uma surra naquele fantasma atrevido e acabar de vez com tanto mistério.E este homem só tinha um nome; o Super Zé Mané.
O intrometido logo se prontificou a vingar-se da loira aguada, apenas para ser reconhecido como um herói intergaláctico!Num minuto arrumaram seus apetrechos poderosos; uma arma de fogo, um crucifixo, um colar feito de dentes de alho e um livro sacrossanto. Com um chute na buzanfa, arremessaram o otário na boca da mata e depois ficaram de prontidão numa romaria de fé, esperando que o coitado desse um fim naquela assombração ridícula.
Ele fez uma oração comovida, suspirou fundo e pegou a trilha, morto de medo.Era uma noite de lua cheia e Zé Mané foi caminhando lentamente, sem olhar para trás. O seu corpo tremia de pavor e tinha certeza que nunca mais voltaria! Dito e feito. Procura daqui e dali, mas nada de encontrar o infeliz, que sumiu do mapa sem mandar recado.
Passaram-se anos e o barracão de Zé Mané transformou-se numa capela, visitada por romeiros de toda a região. Ele tornou-se reconhecido e venerado por todos, porque após a sua partida a loira pelada nunca mais apareceu. A paz voltou a reinar na aldeia e as criancinhas saltitavam em rumo à escola, eternamente gratas ao Santo Zé Mané que mandou a loira pelada vagar em outra freguesia!
Só que a verdade verdadeira era bem outra; quando os dois se encontraram no meio da mata, se atracaram numa luta corporal das bravas; se abocanharam com gosto, se arranharam pra valer , se socaram com fúria e depois se casaram após nove meses do ocorrido!
Zé Mané, que de bobo nunca teve nada, dominou o coração solitário da loira assombrada, encalhada e principalmente assanhada.Conta a lenda que os dois vivem felizes numa cabana velha, no meio da floresta, onde apenas se ouve uivos misteriosos na calada da noite!

Silmara Retti

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Vc gosta de ler?

VOTE EM MIM*










Viriato Gomes se achava o candidato do século, com sua cara de pau que fazia o próprio Pinóquio rachar ao meio de inveja.Com certeza antes de dormir usava um creminho de óleo de peroba só para conservar o brilho falso.E mais falso ainda era o seu sorriso postiço pregado com muito custo em frente ao espelho, antes de sair para a rua sempre com os braços abertos à caça de algum leitor indeciso.
- Mas isto não é para qualquer um - pensava.Precisa ter talento para armar aquele circo onde ele acreditava que o único palhaço era o povo.
Ás vezes ria de tudo, com suas piadinhas sonsas na ponta da língua. Depois dizia estar nervoso com a injustiça social, chorando desesperadamente num show pirotécnico de emoções.Chorava e ria.Ria e chorava, sem perder o rebolado!
Desde moleque sonhava em viver de papo para a lua as custas dos outros e nós éramos os outros; os verdadeiros patrões, ignorados pelo descaso e pela falta de vergonha.
Nós somos o poder e a nossa maior e melhor arma é o VOTO.Este sim não tem preço e se resume no valor máximo da democracia.
Então, para que o voto nos leve a uma sociedade mais digna, não deve ser trocado por uma dúzia de telhas, cimento ou simplesmente por uma dentadura nova.
Nesta época de eleição se vê de tudo: é a camiseta para time de futebol, churrasquinho para os amigos, cesta básica para os inimigos, porém poucos têm uma proposta de melhorar a nossa qualidade de vida. Alguma coisa que não privilegie apenas uma minoria e sim a nossa população sofrida e carente, até mesmo de um candidato a candidato.
Viriato Gomes era um homem bonitão: perna grossa e rostinho de bebê.Só por este motivo já contava com um fã clube de mulheres apaixonadas, depositando nele “aquela” confiança!
- Este Viriato é um gatooooo! - suspiravam pelos cantos.
E você pode dizer: que absurdo! Mas preste atenção ao seu redor, onde muitas pessoas votam no bonitão do pedaço.Naquele que promete mundos e fundos ou que lhe acena comovido, pronto para arregaçar corações.
Você precisa conhecer melhor o seu candidato, o seu passado e principalmente as suas propostas, para saber se realmente acredita nelas.
Existem bons políticos e os de sempre.
Aqueles que tem gogó e pouca ação; muito blábláblá e na hora de arregaçar as mangas, se faz de morto.
É nesta hora que precisamos ficar na cola de Viriato Gomes, que na campanha passada prometeu colocar brincos em todos os orelhões públicos, dentadura em cada boca-de-lobo e adubo para a batata da perna.Falava qualquer absurdo para impressionar o povo, que já estava acreditando que ele inauguraria um metrô linha Centro-Picinguaba, em Ubatuba. Ele costuma se aproveitar da simplicidade de alguns, que acham até que o picareta fotografa bem; que tem boa pinta!
Só que um vudu como Viriato Gomes não sai bem na foto e apenas serve para queimar o filme daqueles que realmente querem trabalhar por uma causa justa.Ele e seus comparsas continuam soltos por ai, mas não se deixem enganar. Somente assim a injustiça social será enterrada junto com seus falsos políticos, que só servem para atrapalhar o progresso da HUMANIDADE.

Silmara Retti

VOLTA ÀS AULAS*


















Ontem Dona Jandira completou 65 anos e para ela isto só não bastava.Nunca foi de luxo e o que a vida de mãe de família e dona de casa lhe reservou foi o bastante para mandar Deus fechar a conta e passar a régua.
Uma mulher vivida assim não esperava mais nada de ninguém.Já tinha sua geladeira luxuosa e cheia de badulaques pendurados na porta; uma televisão colorida e uma carteirinha do Clube do Tricô.Mas estava faltando alguma coisa para que pudesse ser feliz: o reconhecimento da família, dos amigos e da sociedade.E como respeitar um rosto já marcado pelo tempo, com seus caminhos que se desencontravam num par de lábios mudos, sem vontade, sem protesto e sem prazer?
Tinha que ter peito para encarar o espelho e dizer com plena certeza:
- Esta sou eu e gosto de mim exatamente assim!
Então dona Jandira apoiou a cabeça num cantinho da rede só para matutar melhor sobre tudo que já tinha passado durante todos estes anos.Os meninos que fizeram outros meninos, do velho Agenor que se foi pra nunca mais voltar, do aluguel da casa pago com muita roupa passada para fora...
Agora não tinha mais ninguém por perto querendo uma comida quentinha ou uma calça nova de aniversário.Era só sossego e com 65 anos o corpo pedia tranqüilidade.Porém uma mulher como Jandira exigia novas emoções e não podia, jamais, envelhecer desta forma.
A sua cabeça funcionava como antes, apenas muito mais madura e experiente.Conhecia o valor do mundo; o quanto custava um minuto de sabedoria e estes valores faziam dela uma doutorada na escola da vida.
Se quisesse poderia fechar a cortina para tomar uma água, dar um suspiro e voltar em cena, porque o show não pode parar nunca.
Ela balançava a rede de lá pra cá.Não gostava de ficar assim, ociosa.Não tinha jeito para viver descansando.
Aguou as plantas do quintal, deu uma passada de vassoura no quarto, cozinhou uma macarronada bem gostosa e ainda sobrou tempo para o resto do dia.Todinho só para ela!
Ontem foi o seu aniversário e ninguém havia se lembrado.Nem um telefonema, uma visita surpresa ou um agrado especial.
Dona Jandira poderia ficar de molho por causa disto, sentindo-se a vovozinha rejeitada.Mas NÃO, era uma guerreira e nunca se fez de vítima! Olhou para o horizonte e percebeu que o mundo lhe esperava sacudir a poeira e ir para a galera.
Não estava só.O seu sonho secreto continuava ali, aguardando que criasse coragem para vencer os próprios limites.
Com 65 anos de idade mal sabia escrever. Sentia que isto era um problema em sua vida e que poderia ser resolvido se tomasse uma atitude diferente.
As férias escolares haviam terminado e os alunos já se preparavam para a volta às aulas e Dona Jandira não ficou para trás.Procurou a escola mais próxima de sua casa e matriculou-se também.
Deu um passo em direção a mais este degrau e, como uma verdadeira aprendiz, ansiosa por superar mais este obstáculo, dona Jandira se achou no direito de lhe dar este presente. Aprenderia a escrever o seu próprio nome, depois o nome de tudo ao redor e quem sabe até escrever um livro de poemas, como sempre quis.Porque nunca é tarde para ter sonhos e lutar por eles.
O futuro é feito assim, de pequenos desejos e grandes conquistas; 65 anos não é o fim do mundo. É simplesmente o começo de um recomeço, despertando novas emoções como se o melhor da vida ainda estivesse para acontecer.Basta apenas acreditar, transformando a própria história num exemplo de luta, coragem e determinação.

Silmara Retti

VOCÊ FOI*
















Quando seus olhos se perderam nos meus, me senti preenchida como se houvesse encontrado uma outra parte de mim.Era a continuação da minha pele numa forma sublime.Foi penetrando lentamente pelas entranhas da minha alma e se instalando nos meus dias, nos meus desejos e na minha vida.Você apenas sorria, porque na verdade sabia que era um deus escondido dentro de um menino envergonhado ,e eu chorava porque era sua devota, triste por perceber que não era deste mundo.
Um pouco de você era tudo para mim e o barulho da sua lágrima se misturava com o silêncio dos meus lábios que mesmo mudos se transformavam num poema de Amor.
Eu queria mais, muito mais.
Você pedia um tempo porque o infinito era pouco para nós.Mas tempo para quê se a sua existência foi curta como um verão; como aquele que nos reencontramos no meio do povo?
E se foi, simples e silencioso como chegou , como um andarilho do Universo, deixando um rastro de saudades por todos os lugares que aqui esteve, e por onde estiver tenha a certeza que estarei esperando por você.
Á todos aqueles que também se foram, mas que ainda continuam presentes, como um presente dentro de cada um de nós, meu poema saudoso.

Silmara Retti -

VOCÊ É CAPAZ*











Você já deu a primeira gargalhada do dia? Não vá me dizer que não tem nenhum motivo para rir...
Tá chateado, sem dinheiro ou brigou com o namorado? Então é um motivo a mais para você recuperar as energias e nada melhor que uma boa gargalhada, sentida de dentro para fora, porque o bom humor é saúde. Ouvir uma piada, uma boa música ou um elogio sincero, rejuvenesce.Todo sentimento pesado é um atraso de vida.Falar mal dos outros é desperdício de tempo, pois a fofoca não trás felicidade alguma. Abandone este vício e purifique seus pensamentos. Assim você manterá a sua alma limpa, como uma Casa perfumada, sempre de portas abertas para os prazeres da vida.
Tomar sol dá prazer.Tomar um banho de chuva também.
Tudo neste mundo é passageiro e não viva somente para o futuro.Viva o hoje, o aqui e o agora.Confie em Deus e acima de tudo em si próprio.
Quando nascemos, viemos sem nada no bolso.E quando partimos não levamos nenhum objeto de valor, somente experiências na bagagem da VIDA.Cada um tem o seu caminho e devemos respeitar a escolha alheia.Os nossos filhos não são nossas propriedades e temos que orientá-los para o mundo. Educar é deixar que vivam os seus próprios problemas. É tropeçando que se levanta.
É caindo que se aprende a caminhar.
Permita que eles sofram, chorem e sorriem.Somente assim serão humanos, percebendo que aqui é uma escola e precisamos aprender. Nascer, envelhecer e morrer não são novidades.Fazem parte da nossa realidade e Deus não desampara ninguém.
Basta você observar a perfeição da natureza, buscando a sua tranqüilidade interior; que está dentro de cada um de nós, iluminando qualquer escuridão. Comece o seu dia de bem com a vida e acredite que vai ser o melhor de todos, porque você vai batalhar para que isto aconteça.Precisamos de uma nova geração de guerreiros que lutem por nossa paz, usando os braços para um abraço, oferecendo exemplos de dignidade, perseverança e amor!

Silmara Retti

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

VOCÊ, ENERGIA VIVA*



















Nós precisamos de uma guerra de paz! Uma guerra que revolucione o próprio interior, mudando de imediato os pensamentos e transformando os gestos em doação ao próximo.
Na verdade somos uma família de um grande número de desconhecidos, que muitas vezes se estranham no cotidiano, esquecendo-se que todos nós somos humanos e precisamos de carinho!
Mude, gere energia positiva.Ela é capaz de mover o mundo, absorvendo todo o seu organismo e deixando o corpo saudável.
Você merece ser feliz! Porque a alegria é contagiante e traz com ela o sentido da vida.
Amar é um Bálsamo para a alma que necessita de luz própria.E este amor não é apenas carnal. É um amor que percorre toda a extensão de sua mente, se expande para os outros e explode no infinito deixando uma brecha de claridade para aqueles que conseguem absorver para si.
Todos os momentos são abençoados e únicos!
Não voltam mais porque precisamos progredir.Tudo evolui, até mesmo você.Não deixe que pequenos detalhes lhe impeçam de crescer.
Não permita que sua existência aqui seja um mero acaso banal.
Você faz parte desta família, desta época e desta oportunidade.
Participe com dignidade e garanta para você mesmo uma consciência merecedora de uma tranqüilidade Eterna e feliz.

SILMARA RETTI

VIÚVEZ VIVA*
















Eu faço amor com você todas as vezes que minha lembrança penetra a pele da sua alma, traduzindo para os meus olhos uma saudade dolorida; sem sentido, sem motivo e sem perdão! E nos enlaçamos num momento único, de prazer silencioso, quase mudo, como tudo que me incentiva a gritar por seu nome, gemendo de vontade de ter você dentro de mim, só um pouquinho mais.
Vem, se encaixa nas minhas entranhas e beba do meu néctar, pois saciarei a sua sede e a sua fome de amor.
Vem, se aconchegue no meu colo como uma criança carente de peito, prestes a deliciar-se com a fartura do leite mágico, capaz de lhe devolver a vida somente para ficar comigo, só um pouquinho mais.
Este tempo é infinito diante do mundo, porque todo o êxtase da natureza estará explodindo em nossos poros, prestes a recomeçar.Sem medo, sem castigo e sem vergonha!
Não sou mais a mesma menina que você plantou uma rosa dentro do próprio ventre.Já fui àquela mulher que negava os instintos, sem que pudesse lhe fazer feliz.Agora me transformei em uma energia perdida, que vaga a procura de uma outra, para que se acasalem num ato sublime.
Isto não é apenas sexo e somente perdição; é um poema carnal que toca os órgãos por instinto, permitindo-lhes sensibilidade plena e a certeza que será imortal.
Não se faça de surdo e escute as minhas preces, pois sou sua serva a procura de um instante de paz em seus braços.
Atravesse todos os obstáculos que existe entre nós; esta porta que separa os mortos dos vivos e me ressuscite desta saudade. Levante este véu que cobre o seu mundo do meu e venha me fazer feliz, só um pouquinho mais.
Estou aqui de corpo e alma aberta, aprisionada a este desejo que reprime toda a minha dignidade, já que sou mãe; exatamente a mãe dos seus filhos e te quero como pai, amigo e amante.
Onde você estiver, estarei contigo.Já que é a continuação do meu corpo, o encaixe e o repouso do meu extremo prazer.
E foi um prazer ter te conhecido assim tão demorado, aos poucos, para que eu pudesse ter outros prazeres todas as vezes que deixei sua alma virgem desnuda,pronta para me fazer sua devota.Devorarei teu corpo espiritul durante milhões de minutos; te abocanharei entre as minhas pernas e te farei homem para mim; para que possa me fazer mulher no vão das minhas coxas, benditas e malditas, me castigando por pecar mais uma vez.
Eu quero agora, de novo, fazer amor com você.Mesmo que não tenha mais este corpo enrijecido por músculos, peles e pêlos.Corpo de verdade e de vontade!
Quero-te assim, feito um sopro, um espírito ou um sussurro! Não tenho medo, mas juro que sentirei arrepios ao penetrar na minha cova profunda, quente e molhada.
Se não existe mais, é mentira.Se não me quer, é injúria.Se não me ama, é pecado, pois te sinto vagar ao meu lado, gemendo com a minha dor.
Vem, entre aqui comigo e me possua como um demônio na mais dolorida forma de querer, traduzindo o amor extremo.
Faça amor comigo, só mais uma vez.Nada mais.E quando eu perder os sentidos de tanto prazer, me leve contigo para que eu possa me libertar deste vazio.Quero me inundar com o seu suor, me engasgar com a sua saliva e morrer em seus braços, renascendo para a vida eterna !


Poema classificado em Concurso Nacional “Amor e Paixão”, concorrendo com três mil trabalhos de todo o Brasil .

Silmara Retti

UMA VISITA MUITO ESPECIAL*


















O domingo de visita naquele hospital era considerado o dia mais bonito, como uma caixinha de surpresas; onde estava depositando momentos de medo, solidão e saudades!
Desde cedo que certas dores davam lugar a euforia.
Um lenço limpinho se estendia nos leitos, água fresca nos potinhos de plástico e bijuterias espalhadas pelos cantos. Nem parecia mais um hospital. Rostos sofridos pelo tempo já sorriam e muitos transitavam com dificuldade pelos corredores, observando atentamente o relógio da parede. Alguns haviam chegado há pouco tempo, mas outros faziam parte integrante dos armários, dos remédios e das janelas opacas que bloqueavam a luz da rua.
Ela era uma mulher miúda de olhos arregalados e jeito brejeiro que trazia todos os documentos dentro de um saquinho de pão. Usava uma trança fininha que escorria pelos ombros e ia até a cintura. Não falava quase nada e só sabia assinar o seu primeiro nome, mas mesmo assim contava as noites com um sinal feito por um grampo, na cabeceira da cama. Eram muitos sinais e deixavam seu semblante pálido, cada vez mais triste. Levantou-se cedo naquele domingo de visita e sentiu algo diferente, como se alguém especial fosse lhe ver. Ajeitou os chinelos com carinho e foi várias vezes até a porta do quarto com o coração apertado. Poderia ser o seu filho, a vizinha do lado ou um desconhecido qualquer.Deu muita risada com as enfermeiras e quis arrumar pessoalmente cada detalhe.Sem falar pra ninguém, banhou-se com uma loção de flores do campo.
Abriu a maleta de couro e procurou uma roupa de festa, que pudesse expressar toda a sua alegria.Só que as horas foram passando e já estava anoitecendo quando resolveu se deitar.
Fechou os olhos num soluço amargo.Nunca gostou do domingo de visitas.Ninguém aparecia para lhe visitar.
Ela cobriu a cabeça com o lençol e chorou baixinho.
-Por onde andará o meu filho tão querido? Quanto tempo!
De repente uma LUZ forte penetrou por tudo e fez com que sorrisse.
- Você demorou a chegar. – murmurou, feliz.- Agora, me leve com você!
Um anjo iluminado lhe estendeu as mãos e aquela mulher miúda se sentiu forte, porque sabia que não havia se enganado.
A sua visita tão esperada demorou um pouco, mas trouxe consigo a liberdade de ir embora dali para sempre!

Se você um dia tiver um tempo faça uma visita para alguém. Pode ser ao seu filho, à vizinha do lado ou simplesmente á um desconhecido.

SILMARA RETTI

O CUNHADÃO*




















Tem mulher que por infelicidade do destino se casa com o bonitão e ainda leva de brinde o Kit Família muito bem representado pelo Diretor Oficial: o cunhado.E não é um cunhado comum, não senhor. É daqueles que almoça e janta todos os dias e só levanta da cadeira para cair de boca...no fogão. Pede emprestado cigarro, vale-feira, vale-transporte e até vale tudo, já fazendo parte da mobília da casa porque sua cara de pau combina perfeitamente com a estante de peroba da sala.E uma não vive sem a outra; é a peroba e a cara.A cara e a peroba!
Dona Pina que o diga.Foi casada durante vinte anos com seu Coimbra, um Zé Munheca do caramba que não repartia nem o cabelo só de medo que alguém lhe tirasse o que tinha e o que não tinha.
Só que o destino é uma caixinha de surpresas e numa manhã de domingo enquanto voltava da banca de jornal do Didico, se derreteu na calçada como um suco de quiabo.O infeliz teve um mal súbito fulminante ainda com o troco da revista espremido entre os dedos da mão.
Não teve quem conseguisse lhe arrancar as moedas, sendo que Dona Pina foi chamada às pressas para ajudar a socorrer o vitimado.
Pronto, por recomendações médicas, estava de molho.Agora seu Coimbra era o “dodóizinho” da casa, gemendo o tempo inteiro, de touca vermelha e enrolado num cobertor de lã.Santa paciência!
Dona Pina envelheceu cem anos! Ela lhe dava sopinha de legumes na boca, água fresca da bica no pote e doce de goiaba na colher do jeitinho que ele mais gostava! Enquanto seu Coimbra se recuperava aos poucos, Dona Pina se definhava rapidamente.Ela havia se transformado em sua enfermeira de plantão, correndo pela casa a todo vapor com uma bandeja de inox equilibrada na própria cabeça.Lá tinha todos os remédios necessários, inclusive a lista das tarefas diárias: fazer a barba, cortar as unhas do pé, massagear as costas, contar histórias pra dormir...Tudo com muito chamego, é claro!Porém seu Coimbra não estava satisfeito e desconfiava de tamanha dedicação, achando até que tanto carinho assim tinha um nome: sua FORTUNA, muita bem enterrada no fundo do quintal, dentro de uma lata de marmelada.Na sua cabecinha de alho pensava que Dona Pina estaria lhe aplicando um golpe daqueles, querendo mesmo que ele batesse as botas de uma vez.Só que seu Coimbra era um lunático e nem se deu conta que aquele dinheirinho minguado não valia nada diante do grande amor que Dona Pina lhe oferecia todos os dias e de graça.
Então,como não conseguia levantar da cama e muito desconfiado da própria mulher, mandou um convite para Bitello passar uma temporada com o casal.Na verdade ele queria que o seu irmão caçula lhe rastreasse todos os passos, contando detalhes secretos da sabichona.
Para Bitello foi um prato cheio e quase morreu de felicidade! Agora sim teria casa, comida e roupa lavada, no maior capricho do mundo.
Ele chegou, chegando. Exigiu até um quarto com vista pra rua, colchão ortopédico e travesseiro antialérgico.Após uma semana de hospedagem já ficava de ceroula no portão da frente e tomava sol pelado em cima da laje.O cunhadão se sentia o Rei do Mocó, metendo o “pitaco” na vida íntima do casal e fazendo piadinhas picantes sobre o jeito sinistro que o irmão contava as moedinhas, uma por uma, sem se dar conta que o seu verdadeiro tesouro chamava-se Dona Pina.
Seu Coimbra estava doente, de dentro para fora, e não conseguia perceber a grande mulher que possuía.Mas se ele estava cego, Bitello enxergava até demais.Aos poucos foi reparando melhor nas qualidades de Dona Pina, sempre prestativa e dedicada.
- Que potranca! – babava pelos cantos.- Essa tá no papo.
Ela era uma mulher honesta e não merecia tanta desconfiança assim. Nisso Bitello caiu de quatro e, totalmente apaixonado, rendeu-se aos seus encantos. Da noite para o dia mudou completamente o seu jeito de ser.Arrumou um emprego no açougue do Binho, comprou roupas novas e passou a ajudar nas despesas da casa.E durante a madrugada ainda tinha energia de sobra para lhe servir um chazinho com bolachas.
Os dois já não disfarçavam mais nada, dando “bituquinhas” de amor embaixo das barbas de seu Coimbra. Ele aprovou rapidamente o romance desde que pudesse continuar morando num quartinho no fundo do quintal, só para ficar mais próximo da latinha de marmelada.
- Pra mim, tudo bem.Só não quero ficar pobre!- sorria.
Só que seu Coimbra já era um homem rico, muito mais rico do que imaginava, porém preferiu ficar com suas moedas antigas, guardadas durante anos no maior sigilo do mundo. Enquanto que Bitello enriqueceu de vez porque tinha com ele a verdadeira fortuna daquela casa: o carinho de dona Pina.
Porque ela investia na produção, multiplicava os chamegos e fazia render a poupança como ninguém! Existem riquezas na vida que somente os sábios de alma conhecem, valorizam e desfrutam, fazendo delas um caminho próspero para a própria felicidade.

Silmara Retti

UMA CANÇÃO PARA JOÃO PEDRO








No percurso de cada caminho muitas pessoas partem deixando saudades e outras chegam, trazendo alegrias.
Assim é o ciclo da vida; feito de sol e chuva, calor e frio, lágrimas e sorrisos.E o melhor sorriso continua sendo de uma criança feliz, que brinca de viver como se tivesse o mundo em suas mãos.
Dentro dela está toda a energia do bem querer, armazenada em seu corpinho frágil preste a explodir numa gargalhada gostosa, com sabor de suquinho de groselha e cheiro de chocolate quente!
Pra você é sempre festa, transformando a nossa realidade numa fantasia viva, onde tudo de bom pode acontecer...
De manhãzinha acorda cantando suas músicas inventadas e depois foge pra rua com cinco pernas, carregando a mochila nas costas, só de medo de ir para a escola.De tarde se reúne com toda a molecada, abrindo o berreiro quando lhe chamam para tomar banho e a noite muda o próprio nome, fazendo graça e dizendo-se cheio de poderes.
Já não é mais o nosso João Pedro.Virou o Homem-Aranha, pulando pelos cantos da casa com sua super máscara de borracha, em mais uma missão especial .
Mexe em tudo, gruda nas paredes e nos deixa cada vez mais apaixonados.João Pedro, você realmente não é um menino comum. É muito mais que o homem Aranha.
Você é nosso herói e te amamos por isto!

Silmara Retti

UM SHOW DE BELEZA !*















Qual era o menor circo do mundo? Era o terninho de Ebervaldo, porque só cabia UM palhaço dentro: ele mesmo.
Era com esta piadinha picante que as pessoas riam alto da cafonice explícita de Ebervaldo José, que nem se incomodava em rimar “alhos” com “bugalhos”, botas coloridas com calças antigas ou seu cabelo chanel com a blusa cacharrel.
Desfilava pelas ruas da cidade naturalmente, fazendo a sua própria moda com muita simpatia.Para ele não tinha sentido em ser de outra forma, pois apesar de saber o quanto ás pessoas zombavam do seu jeito sem jeito, apenas se importava em garantir um futuro rechonchudo.
Mas, pra quê se aquele pastel era solteiro, sem parentes aparentes e vivia circulando com sua pasta de documentos importantes debaixo do braço? Ninguém sabia direito das suas transações financeiras, porque era um túmulo fechado e sacramentado pela discrição.
Era um ”Pavão Misterioso”, que despertava o deboche daqueles que lhe conheciam.Aliás, daqueles que não lhe conheciam de verdade.
Ebervaldo José tinha um coração do tamanho do mundo e se não combinava as cores da roupa, era porque tinha coisas que lhe pareciam mais importantes na vida.Tinha outros objetivos a serem conquistados e conquistou! Era dono de uma personalidade única, convicto em seus ideais e disposto a batalhar por tudo que sempre quis, com muita garra e determinação.Apenas não se enquadrava nos conceitos de beleza impostos pela sociedade, que não consegue enxergar a um palmo do seu nariz, a grandiosidade daqueles que são bonitos naturalmente: de dentro para fora.
A mulherada achava Ebervaldo sem graça e não botavam fé na sua pessoa, achando mesmo que só servia para fazer os outros rirem da sua cara de gelatina.E aquele moço esquisito preferia viver ao seu modo sem modos, mesmo que pagasse o maior Mico do mundo!
Sandra era a primeira a lhe criticar e não se conformava com tanta cafonice.Sentia raiva do seu jeito audacioso em dizer com a boca cheia que não devia nada a ninguém.
Como de fato; ele tinha sua própria renda mensal e nunca dependeu daqueles linguarudos para comprar uma bala de goma.

Até que um dia quiseram pregar uma peça em Ebervaldo e a danada da Sandra se fingiu de apaixonada, apenas para se aproximar do rapaz.
- Vou pregar uma peça neste palerma.- pensava consigo mesma.
Depois que risse bastante da sua cara, lhe mandaria um pontapé certeiro, fazendo Ebervaldo se sentir um verdadeiro palhaço.
Mandou cartas de amor e bilhetinhos eróticos, onde dizia ser uma pobre vítima da paixão, desejando apenas marcar um encontro amoroso com o bonitão.
- Pode ser numa lanchonete, no cinema ou na pracinha da Igreja.Não importa! Quero apenas sentir de perto toda a sua sedução e beleza.
Só que Ebervaldo nunca foi bobo como diziam.Ele era uma pessoa sensível e logo percebeu que Sandra precisava aprender uma lição.Assim como todos aqueles que estão acostumados a viver de aparências e futilidades.Marcou o tal encontro e ficou esperando na esquina, onde Sandra se coçava inteira de pura curiosidade.
Enfim, a sós.Ebervaldo usava sapatos de couro marrom e um macacão xadrez colado no corpo.Parecia uma zebra desnutrida e ela precisou segurar o riso, para não cair na gargalhada ali mesmo.
No início não tinham muito assunto.Falaram do sol, da chuva e do frio...Depois um silêncio profundo.Do que falariam agora?
Sandra quase morreu de alegria quando ele a convidou para ir até sua casa, pois lhe faria uma surpresa inesquecível.Então, muito satisfeita, concordou na hora, retocando a maquiagem.
- Como você é danadinho! – murmurou, piscando um olho.
Andaram por alguns minutos, até que Ebervaldo parou diante de uma casa enorme, rodeada por muros pintados de azul.Uma música suave vinha do quintal, se confundindo com risadas de crianças.
- Não estou entendendo nada.- resmungou a moça, já aflita.
Então, ele explicou para Sandra que ali dentro estava o grande motivo de tantas economias, de tanto trabalho e de tanta alegria.Que existem outros valores nesta vida que vão além das aparências e um sorriso de criança é uma jóia de imenso valor.
Ela continuou muda, ajeitando o topete engomado.Foi quando Ebervaldo José abriu o portão daquela casa, que não era somente sua, e várias crianças lhe abraçaram gritando de alegria:
- Vivaa, o tio Ebervaldo chegou!- lhe beijavam com carinho.
Eram as suas crianças, cuidadas e amadas por ele como nunca foram por ninguém.Para elas Ebervaldo não significava apenas um moço esquisito, fora da moda e cheio de manias.Ele significava AMOR, porque a verdadeira cafonice é a falta de respeito e acima de tudo, a ausência da dignidade.E com certeza Tio Ebervaldo era um show de beleza humana!

Silmara Torres Retti

UMA BELA MULHER*












Desde o primeiro dia da aula, Geninho bateu os olhos naquela loiríssima vitaminada e ficou tonto, desnorteado e tremendo de tanto Amor.Sentiu o coração saltar pela boca, num suspiro de tirar o fôlego, pensando com seus botões:
- Que coisinha fofa! Ela me leva à loucura!
Ela parecia uma boneca Barbie Ciclista com os apetrechos de ginástica guardados em sua mochila.Uma bela mulher como Katy Cristina jamais precisaria se “acabar” nos exercícios para perna, bumbum e peito, pois com sete anos de idade ainda era uma tábua de passar roupa.
O moleque minguou de tal maneira que não conseguia enxergar a um palmo do nariz.Esquecia a tabuada, não comia mais a merenda escolar e tampouco jogava taco na hora do recreio, curtindo a maior “fossa” do mundo!
Antes ele era um terremoto; danado feito um saci pererê, deixando as professoras de cabelo em pé.Mas agora tudo tinha mudado em sua vida, pois havia conhecido a maravilhosa Katy Cristina.
Na verdade ela nem dava bola para o charme enrustido de Geninho, achando que ele era feio, desengonçado e sem graça.Tinha cara de lua cheia, óculos de fundo de garrafa e boquinha de biscoito.
Definitivamente, sem chance! Justo ela que era a poderosa do vovô, a queridinha do papai e a cuty-cuty da mamãe...
E, além disso, o seu homem ideal era bem diferente daquele palhaço.Preferia alguém mais velho, maduro e experiente, como por exemplo: Bob Boy.
Ah, ele sim era nota dez! O mais bonito e charmoso da sala cinco, fazendo as meninas babarem quando passava no corredor. Os dois já estavam comprometidos, pois ele havia lhe jurado amor eterno e até usavam um anel de compromisso que veio de brinde no doce.
Foi tudo para que Katy Cristina esnobasse Geninho na cara dura, lhe fazendo de tapete para que pudesse desfilar.
Por mais que o pobre menino tivesse mudado o corte de cabelo, tingido a franja e caprichado no visual, ela lhe ignorava completamente.E quando ele lhe mandou uma carta romântica, pode ver aos prantos que Katy Cristina limpar o salto da sandália com a pontinha do papel, rindo a suas custas.
Que tragédia! Geninho não dava uma bola dentro.
O jeito seria morrer para o mundo, virar farelo de gente e sumir do mapa.Comprou um álbum de figurinhas do Homem Aranha, um homenzinho de borracha e um saco de bolinhas de gude, fazendo de tudo para esquecer tamanha desilusão.
Entregou aquela ingrata de bandeja para o amigo.Que os dois se explodissem de vez, longe dali!
Queria tomar um porre daqueles e embriagou-se com uma garrafa de suco de uva, prometendo a si mesmo que Katy Cristina, nunca mais!
Caiu de corpo e alma nos estudos, devorando letra por letra da cartilha, apenas para não ficar choramingando pelos cantos e servindo de chacota para os outros.
Os amigos de Geninho tomaram-lhe as dores e viraram a cara para o casal fingido, esnobe e sem coração.
De um lado ficou um homem de nove anos totalmente ressentido, magoado e frustrado.Já do outro estava os “noivinhos” apaixonados, num dengo só!
Até que de repente a nossa Penélope Charmosa teve um probleminha desagradável e apareceu no último dia de aula com o rosto todo empipocado feito um torresmo a pururuca.E Bob Boy quase caiu duro de susto! Ah, esta não! Ela estava com catapora:
- TÔ FORA! - pensou o bonitão- Minha boneca, preciso fazer uma viagem para o exterior e sinto que não nos veremos até o próximo ano.Adeus, formosura.Fui!
Então aquele romance infinito, sacramentado pelas leis do companheirismo eterno, definhou.
Bob Boy resolveu dar um tempo, deixando a pobre menina entregue definitivamente a solidão, se remoendo nas lembranças do passado.
Abandonada ás traças,ninguém lhe deu atenção; nenhum telefona ou um agrado qualquer.Estava curtindo a dor de uma fossa junto com sua catapora ridícula.
Foi quando ela ouviu uma voz tímida lhe chamar no portão. Pulou da cama com os olhinhos brilhando de alegria e rapidamente ajeitou um laço de fita no cabelo.
- Já estou indo.- respondeu.
Aquela voz era doce, amiga e repleta de saudades , que trazia de volta Geninho, o apaixonado de sempre.Ele estava escondido atrás de um pacote de doces e com um sorriso de felicidade estampado no rosto .Felicidade por estar diante de Katy Cristina, que mesmo abatida, com olheiras e empipocada, estava mais bela do que nunca , pois traduzia a beleza interior daquele homem apaixonado !
Porque o olhar de quem ama consegue enxergar a verdadeira beleza, de dentro para fora, refletindo aquela que cultiva dentro de si mesmo .

Silmara Torres Retti

UM CARNAVAL INESQUECÍVEL*

O Carnaval estava se aproximando em ritmo acelerado, numa mistura de sons e cores que já faziam parte do cotidiano, contagiando a todos com sua energia eletrizante.
Neste momento tudo cria vida e faz com que seus palhaços, pierrôs e colombinas renasçam após um longo tempo de dormência para invadirem toda a cidade, através das histórias de Vó Nininha, que parecia ainda viver das lembranças do passado.
Ninguém naquela casa tinha mais tempo e paciência para suas lamúrias, preocupados apenas com os últimos preparativos para o Carnaval. Ensaiavam os passos e telefonavam pra um e pra outro, querendo juntar a galera. Mas Marquito, que ainda não tinha nem gingado e nem galera, bufava no cantinho do sofá, se remoendo de raiva porque só tinha quatorze anos e aquela bagunça toda era proibida para ele. Proibida por quem? Por Seu Nilton, é claro; o pai todo poderoso, aquele que se dizia o “General da Banda”.
- Marquito, há sua hora ainda vai chegar.
Só que esta hora não chegava nunca e na noite de sexta-feira a família inteira se embonecava, soltando a franga na avenida, sendo que o pobre garoto recebia a missão especial de cuidar de Vó Nininha.E o que isto significava? Simplesmente ouvir suas histórias da Carochinha, como se fossem inéditas e atuais. Depois fingir que havia adorado, já fingindo que havia adormecido.
- Pô, pai. É Carnaval... Ninguém merece!
Um motivo a mais para ele ficar trancado dentro de casa, fazendo companhia àquela mulher “maravilhosa, simpática e muito criativa”.
Seu Nilton despediu-se com um sorriso maroto, cantando o hino do Timão com suas latinhas de cerveja a tiracolo, se sentindo o Galo da Madrugada.Aliás, como se fosse realmente curtir o Carnaval, porque depois que tomava “todas” sempre tombava num canto qualquer, revirando os olhinhos.
O jeito mesmo era se conformar com as histórias de Vó Nininha, rezando com fervor para que ela fosse descansar mais cedo.
PRONTO, tudo estava preparado para a "Grande Festa". Marquito roía os últimos tocos de unha e não disse uma palavra, protestando em silêncio, toda aquela opressão. Fechou o portão mudo de raiva.Mirou Dona Nininha por rabo de olho e percebeu que ela não tinha culpa de nada .Então, para facilitar o diálogo, foi logo se espichando no sofá:
- Então, como a senhora já disse no ano passado; em 1928 colocou a sua deslumbrante fantasia de colombina e conheceu um pierrô muito “charmoso”. Um “chuchuzinho”! Ficaram se paquerando durante cinco anos; namoraram durante dez; casaram-se e o meu pai logo nasceu. Aí nasceu tia Lídia, tia Júlia, tio Eduardo, tio Bidú...- suspirou profundamente.- E aí...
- E aí, meu querido, que naquela época ainda não existia tantas modernidades como agora.
- Sei disto.Não existia o computador, o celular, o DVD...
-E muito menos o preservativo.- afirmou.
Nossa mãe! Que bomba! Marquito já ouviu muito sobre preservativos, mas nunca imaginou que aquela mulher tão antiga, da época de 1928, pudesse estar falando sobre "aquilo".
-Estou falando sobre a camisinha, meu querido. Isto mesmo.Você talvez ainda seja uma criança, mas é importante que saiba que a camisinha evita a gravidez indesejada e também as doenças sexualmente transmissíveis.Se na minha época existisse a tal camisinha, talvez hoje a história seria outra...- suspirou, sorrindo.
Ela caminhou lentamente até o seu quarto, procurando um pacotinho colorido que estava no canto da gaveta.
- Marquito, este presente é pra você.
- Mas eu nem vou pular o Carnaval, Vó...
- A camisinha não é apenas para ser usada no Carnaval. Você precisa se cuidar todos os dias do ano.Quem gosta de você, é você mesmo, Marquito. Quando sentir que chegou a hora, não se esqueça dos conselhos da vovó. A gente também pode se divertir com alegria, equilíbrio e prevenção. O Carnaval acaba na quarta-feira de Cinzas, mas a vida continua.Isto é saber viver, meu querido!
Marquito nem acreditou no que estava ouvindo; Vó Nininha realmente entendia das coisas.Nisso ela soltou uma gargalhada gostosa, abriu o velho baú com cuidado e rapidamente colocou uma fantasia antiga de carnaval, que deveria estar ali há muito tempo.
- Vamos pular o Carnaval, meu querido.Vem...
Nisso os dois se abraçaram com imenso carinho, rodopiando pelos cômodos da casa numa festa de emoções.Nunca se divertiram tanto!
A noite de Carnaval foi a melhor de todas, pois aquele menino, quase um rapaz, percebeu que os anos passam, mas a sabedoria, o diálogo e a confiança prevalecem sempre, unindo gerações e criando histórias inesquecíveis, como somente Vó Nininha saberia contar.

Silmara Retti -

UM AMOR DE VERÃO*

















Era uma vez uma menininha simples, como você, que gostava de brincar com as amigas da escola.Se tinha sol, iam á praia. Se chovia, montavam uma casinha no fundo do quintal e improvisavam um fogão, uma panela e comida de verdade.
Elas faziam a maior festa do mundo, imaginando como seria a vida depois que crescessem e se transformassem em donas de casa.
O seu nome poderia ser Ana, Beatriz, Amélia ou Bianca.Mas era Lurdinha.Então, ela sonhava acordada com suas bonecas mágicas, que muitas vezes pareciam falar.
Era uma vez um menininho simples, como você, que gostava de brincar com a turma da escola.Se fazia sol, nadava no rio.Se chovia, ficava batendo figurinha no fundo do quintal.E era feliz, acreditando que nunca cresceria.O seu nome poderia ser Marcelo, Otávio, Francisco ou Miguel.Mas era Betinho.E o tempo passou, para Lurdinha e Betinho, deixando toda a infância na saudade.Ela esqueceu-se das bonecas e queria viver emoções diferentes, como as outras meninas da sua idade.Ele não era mais o mesmo, e ficar rodeado de moleques, já não tinha tanta graça.
– Brincar de pega-pega, de cobra-cega, de mãe da rua...Bahhh! Era coisa de criancinha.
Agora gostava de passear na avenida da praia, curtir um som maneiro e paquerar muito.Lurdinha queria um vestido da moda, uma sandália nova e um visual de parar o trânsito!
De repente, numa tarde de domingo, enquanto Betinho contava vantagens para os amigos e Lurdinha desfilava com seu modelito verão, seus olhares se encontraram no calçadão da avenida IPEROIG e o mundo parou naquele instante.
- Que mulherão!
- Ahhh, que príncipe...
Lurdinha nem reparou que Betinho tinha espinhas no rosto e Betinho não percebeu que Lurdinha usava aparelho nos dentes.
Foi uma explosão de emoções e com certeza já estavam apaixonados.Ele falava sobre seus planos para o futuro: queria ser rico e famoso. Mas na verdade não gostava de estudar e assim fica difícil.
Lurdinha apenas suspirava, desejando ser a esposa perfeita para lhe dar muitos filhos.Então, começou a decifrar suas emoções, na ponta da caneta:
“Querido Diário, quero encher a minha casa com filhos lindos e saudáveis: Martinha, Michely, Ruan, Cristina ...Até montar um time de futebol”.
Lurdinha sonhava demais, sem perceber que a realidade é outra.Para criar filhos é preciso fazer um planejamento familiar.Então, resolveu colocar tudo no papel: gastos com comida, educação, saúde, lazer e muito mais. Quase desmaiou de susto, mudando rapidamente de opinião.
“Querido Diário, ter muitos filhos seria bacana se não fosse a atual realidade em que vivemos, pois é preferível investir mais na qualidade. Michely, Cristina, Ruan, Martinha...é um exagero.Podemos apenas ter apenas o Maicon" .
Só que Betinho nem se ligava nas intenções daquela menina que havia conhecido na semana passada.Em Ubatuba tinha mil gatinhas loucas para lhe conhecer e Lurdinha já fazia parte do passado.Ana, Beatriz, Amélia...todas eram lindas também.
- Ah, Maria! Isto sim é uma mulher de verdade!- suspirava.
Lurdinha não era boba nem nada e logo percebeu que tinha muito tempo pela frente e ter filhos ou não, era assunto para o futuro.E aquela paixão fulminante deu lugar a uma amizade intensa; porque as pessoas mudam de opinião, de idéias e conceitos, como Lurdinha e Betinho.Como você!
Ah, agora Lurdinha estava namorando Benjamim:
" Querido Diário, encontrei a minha alma gêmea.Benjamim vai ser o pai dos meus filhos.Acho que agora é pra valer"...
E Betinho já estava ficando com Abigail, irmã de Benjamim, que estava com Lolita.Êpa, quem era Lolita? A menina da esquina que estava apaixonada por Betinho.UFAAA!


SILMARA RETTI –

UM AMOR DE CARNE E OSSO*













Quando as pessoas encontravam Zulú e Brasinha de bituquinhas pelos cantos sentiam muita inveja e comentavam que não sabiam da onde vinha tanta “melação”.Ela era sequinha como batata palha e ele parecia um fiapo de linha amestrado.Claro! Não comiam e nem bebiam.Só viviam de puro amor!
Este fanatismo começou como uma doença, desde o primeiro dia que avistou aquele príncipe desencantado fugido dos Contos de Fadas para viver um romance misterioso com a Borralheira Zulú. Escreviam bilhetinhos desenhados, trocavam comidinha na boca um do outro e faziam questão de demonstrar o tempo inteiro que estavam totalmente envolvidos num só coração.
Também tinham apelidos carinhosos como “bebê”, “xuxuca” e “gatuna”. Todos os dias arrumavam um motivo especial para comemorar:
- Um mês após a primeira piscada.
- Dois meses após a segundo passeio na Barra Seca.
- Cinco meses após o passeio de bike no Cais.
Juravam que seria amor eterno, mesmo que fosse para viverem numa moita na beira da Praia Vermelha, sem lenço e sem documento, apenas no maior love do mundo! De papo para o ar, felizes para sempre!
Zulú não tinha palavras, idéias e nem assunto.
Brasinha era um pato morto.Nunca falou sobre política, religião ou futebol e apesar de tanta encenação cinematográfica, pouco se conheciam de verdade.
Só que a vida não se resume em um desenho animado com finais felizes a cada instante, porque aqui fora o mundo é de carne e osso.
Após pouco tempo de namoro, eles marcaram a gloriosa data do casamento.Tudo estava muito lindo e cheio de graça!
Brasinha se achava um bem sucedido vendedor de sapatos e exigia que Zulú parasse de trabalhar como diarista para se dedicar exclusivamente ao novo lar.Para ele o importante seria a roupa pendurada no varal, o feijão com torresmo no capricho e o lençol de bolinhas comprado no famoso crediário, em treze vezes sem juros.
O "casal maravilha" estava cego de amor ,feito dois periquitos apaixonados. Até que por zica do destino, ou olho gordo das fofoqueiras encalhadas, aconteceu uma tragédia: Brasinha foi mandado embora do serviço com sapato e tudo!
Pronto, o mundo da fofa caiu!Não estavam preparados para enfrentar os problemas conjugais e o grande amor de Brasinha e Zulú foi para o espaço! Ela se descabelou toda enquanto seu príncipe desencantado se transformou em um sapo do brejo, cheio de dúvidas e dívidas.
Aquela mulher louca de paixão sumiu de mala e cuia para a casa da mamãe, acreditando que na novela das oito tudo seria diferente. Envelhecer numa moita, vivendo de pão duro e água de chuva, nem morta!
Brasinha ficou pasmo de desgosto.Caiu na bebedeira, perdendo o pouco que tinha no balcão do bar do Totó.
Estava no fundo do poço enquanto Zulu se acorrentava aos pés da cama para não ir ao seu encontro, já morta de saudades.Não suportava ver seu Brasinha Maravilha definhado pela sarjeta, clamando piedade com uma caneca de alumínio na mão:
- Uma esmolinha para um pobre infeliz!- resmungava.
Não, aquele não era o seu, sempre seu, Príncipe do Amor! Resolveu escrever um bilhete e pediu que a molecada da rua lhe entregasse imediatamente.
Queria marcar um encontro na praça da Matriz onde pudessem conversar melhor.Ás seis horas em ponto Brasinha chegou com os olhos inchados de tanto chorar, ainda mais seco do que nunca.
Zulú não ficava para trás, disfarçando as lágrimas com os óculos escuros.
Então, o que fazer? Zulú não suportava mais a distância e agora tinha certeza que amava um homem de verdade, com seus defeitos, seus limites e seus problemas. Pareciam dois desconhecidos diante de suas próprias dificuldades e precisavam unir as forças num único objetivo.
Após horas de choradeira, resolveram recomeçar.Ela se prontificou a ajudar em tudo que precisasse.Arregaçou as mangas e conseguiu arrumar um emprego na padaria do Jair.
Enquanto Zulú trabalhava fora, Brasinha se descabelava feito louco para deixar tudo um brinco; lavava, passava e até cozinhava.
Com o tempo conseguiram pagar as contas atrasadas, fazer o financiamento do carro novo e bater a laje da casa.
Ela ainda lhe dava sopa de ervilha na boca e continuava a lhe tratar por apelidinhos carinhosos, como Tigrão e Homem-Cueca.Só que agora era diferente, porque haviam amadurecido com a separação.
Através das dificuldades aprenderam a se conhecer melhor, fortalecendo o companheirismo. Zulú e Brasinha estavam cada vez mais unidos vivendo um casamento de carne e osso, feito por momentos alegres e tristes.Somente assim poderiam reconstruir uma nova,verdadeira e sólida HISTÓRIA de AMOR!

Silmara RETTI

UM AMOR DE CARNAVAL*




















Todas as noites Mafalda mexia na sua caixinha de badulaques, procurando com saudades as presilhas de strass para ajeitar os cabelos já grisalhos pelo tempo.Passava um brilho nos lábios, fazia um penteado bonito e se perfumava como se estivesse esperando alguém.
Era uma mulher vivida, vaidosa e repleta de lembranças; dona de uma bondade que tinha aroma de flor.
Depois se apoiava no parapeito da janela, sorrindo para as pessoas que desciam a ladeira em direção a praça da Igreja Central.
Procurava em cada rosto um outro rosto que nunca vinha, não voltava e talvez nem existisse mais.E seus olhos de vovozinha irradiavam um brilho de vida, desejando ainda ser muito feliz.
Lá ia Maria, Antonia, Querubina, os meninos da Suzete, Madalena e Dona Pina.O mundo inteiro passava diante daquela janela como um filme de cinema, fazendo festa nas noites solitárias de Mafalda, que observava todos os detalhes com muitas saudades de seu tempo de menina.
- E que menina jeitosinha!- admirava o pai coruja.
Ele era um caixeiro viajante, descendente de nordestino, que vendia enxoval no interior de São Paulo. Aparecia apenas nas datas comemorativas do ano, sempre com um presente surpresa dentro da mala.Às vezes era um tecido colorido, um vestido de chita ou um calçado bacana.
Então nessas idas e vindas, Mafalda foi criada por uma tia solteirona e pela mãe costureira, que fazia suas roupas de festa com bastante babado.
Mas Mafalda já era uma mocinha e queria algo diferente, alguma coisa mais moderna, como nas revistas de moda.
Queria qualquer coisa que lhe deixasse com pose de mulher!
Nisso faltava pouco para o Carnaval e a banda tocava sem parar por toda a cidade, levando alegria pelos cantos das ruas com suas marchinhas que ferviam o coração.
E exatamente ali, há cinqüenta anos atrás, Mafalda se debruçou no parapeito da janela, exibindo seu vestido novo, com os olhos arregalados esperando que a banda passasse mais uma vez.
Nunca havia visto uma euforia tão colorida assim!

Quando de repente, no meio da música, um rapaz mascarado, bonitão e com pinta de artista, fez uma graça com a corneta, lhe mandando um beijo estralado no ar.Era Carnaval e desde aquela época, valia tudo; farra, amores, encontros e desencontros.
Só que Mafalda começou a amar naquele instante mágico, que cantou e encantou a sua alma de mulher.Nem quis saber de mais na-da .Fingiu não ouvir os gritos bravos da mãe e pulou a janela, se perdendo na multidão como se conhecesse aquele rapaz há anos .
Na verdade nem sabia o seu nome e por causa da máscara enfeitada conseguia apenas enxergar os olhos azuis, talvez pintados por guache pela própria natureza, apenas para que combinasse com sua fantasia de marujo.E foram felizes por alguns instantes.
Estavam namorando e só não se casaram porque já era onze horas da noite e ela precisava voltar para casa.
Na outra noite esperou a banda no mesmo lugar, naquela janela.Estava som a presilha de strass, com o perfume de flores, mas ele não veio. Por cinqüenta anos Mafalda acompanhou, da sua janela, a Banda de Carnaval. Agora era viúva, com seus netos criados e estava sozinha na vida.Tinha os cabelos serenos e os mesmos olhos brejeiros daquela menina a procura do primeiro amor .A banda passou, como todos os anos, levando com ela seus palhaços, pierrôs e colombinas.
Então Mafalda prometeu pra ela mesma que nunca mais esperaria. Puxou a cortina, pronta para dormir.
Era quase onze horas da noite e já sentia cansaço. Seu corpo era frágil e exigia cuidados especiais.Foi quando um marujo, com bastante dificuldade para caminhar, lhe chamando por Tereza, Sofia ou Dolores.Não importava o seu nome, porque atrás da máscara colorida tinha um par de olhos azuis, que também lhe procurou por muito tempo.Talvez por cinqüenta anos ou mais, porém nunca se encontraram nesses desencontros da vida.
O Carnaval de Mafalda recomeçou ali, naquela mesma janela, onde uma história de amor ressurgia na lembrança daquelas “crianças travessas”, que só queriam brincar de ser feliz.A vida é uma festa e nunca é tarde para acreditar que cada instante é um eterno recomeço!

Silmara Retti

UBATUBA LENDÁRIA


















Ubatuba é uma das mais belas cidades do litoral Norte paulista, rica em belezas naturais e em tradições inesquecíveis que são passadas de pai para filho.
Nosso povo saudoso de suas raízes, abriga na memória lendas e causos que fazem de Ubatuba um álbum vivo de recordações.São recordações alegres, que nos preenchem a alma, num momento de satisfação e orgulho por fazermos parte desta história que se engrandece a cada dia.
Apesar do decorrer do tempo sua mensagem está sempre presente, levando-nos ao caminho da realização íntima e espiritual, pois ao nos aproximarmos da cultura popular, compreendemos melhor o seu imenso valor, transmitindo o sentimento de admiração e respeito pela nossa terra e pela nossa gente .
Somente assim estaremos traçando novos rumos, para que Ubatuba não se torne apenas um lugar repleto de lendas, mas uma cidade próspera que busca o desenvolvimento pleno e duradouro.


Silmara Retti

TRABALHAR ...É POESIA*








Trabalhar é dar vida a antigos projetos,
É colorir o mundo com a energia de nossas mãos;
Sempre prontas a servir
Da melhor maneira possível,
Transformando o mundo numa oficina de costura
E tecendo com carinho e dedicação
Traços que unidos somarão.
Trabalhar é dar vida a novas idéias,
É construir caminhos,
Transformando o mundo num vasto campo
Fértil, florido e germinado
Com as sementes do bem-querer.
Trabalhar é se sentir vivo,
Em sintonia com o Universo,
Oferecendo o suor de mais um dia conquistado
e a sensação de dever cumprido,
Pois somos parceiros,
Pequenos e grandes cidadãos
Que unidos sonham, acreditam e buscam
o progresso da nossa Nação.

- Silmara Retti -

TRABALHO E CONSUMO










O ser humano é obstinado por novas conquistas e prazeres , desejando sempre superar os limites adquiridos. Desde o início da história inúmeras descobertas foram feitas e em todos os momentos desta ascensão social o trabalho vem se destacando como a alavanca percussora do progresso .
É a mais nobre expressão vital e possui o poder de converter a matéria prima em produto , para que se possa consumi-los de acordo com nossas vontades e necessidades.
Somos todos capazes de assimilar a prática do companheirismo, oferecendo um pouco do que aprendemos para os outros .É preciso apenas ter boa vontade e disposição para que haja uma troca de energias, experiências e conhecimentos.
Toda forma de trabalho deve ser respeitada , pois é a maneira mais eficaz de se construir alicerces, estradas e pontes que nos ligarão definitivamente ao bem estar comum.
É dando que se recebe .É trabalhando que se exterioriza os valores que possuímos e conquistamos no decorrer da vida .
Trabalhar e consumir são direitos do cidadão .
O mundo atual nos oferece diversas formas de consumo, com suas vitrines coloridas ou propagandas atraentes , alimentando nossos sonhos e nos dando a sensação de poder...Poder consumir .
Por instantes nos sentimos donos do mundo , envolvidos por esta magia sedutora e nos esquecemos que nem todos possuem as mesmas oportunidades de emprego.
É essencial criarmos noções de consumo consciente, identificando problemas e possíveis soluções.Assim poderemos despertar uma consciência crítica , refletindo e agindo sobre nossa realidade.
Lutar por direitos ligados a igualdade social é um modo de construir a cidadania, para que a justiça e a imparcialidade sejam compromissos adquiridos por todos nós.


Silmara Retti -

TRABALHAR, NEM PENSAR*












Tibúrcio nunca foi chegado ao cartão de ponto, se coçando todo só de ouvir a palavra TRABALHO, que mais soava como um palavrão cabeludo.Tinha raiva de tudo que lembrasse a dureza do seu dia a dia, prometendo para si mesmo que colocaria fogo no escritório, no próprio crachá e principalmente na peruca vermelha daquele chefe ridículo, que mais parecia um espantalho!
Que desaforo: nasceu pobre e acima de tudo um empregadinho.Era demais para o seu coração!Entra ano e sai ano, servia apenas de tapete para que o patrão dourado pudesse desfilar.
Quanta gente não vai dormir durinho da Silva e quando acorda está nadando na mufunfa? Só que Tibúrcio nunca teve esta sorte.
Ele sonhava de olho aberto, escrevendo uma lista quilométrica das barbaridades que faria, se não precisasse pisar naquele recinto fúnebre.Nem se lembrava que era assim que conseguia pagar o aluguel, fazer crediário na mercearia e comprar uma roupa nova para o baile de gafieira.
O trabalho dignifica, enobrece e abre caminhos, nos deixando cada vez mais preparados para encarar os problemas do cotidiano:
- Bela róba!- pensava Tibúrcio.
O trabalho nos conduz a uma vida melhor:
- Tô fora! - resmungava trincando os dentes.
O seu maior inimigo era um despertador no formato de um galo que ganhou no bingo da Paróquia.Quando aquele galo “bocudo” cantava desesperadamente, ás seis horas da manhã, era uma luta para abrir uma fresta do olho.Tibúrcio fritava nas cobertas como uma coxinha de frango, torrado de raiva e querendo mesmo dar o calote no serviço.
Nem adiantava lhe explicar que o país estava passando por uma crise de desemprego e ter uma fonte de renda, é privilégio de poucos.
Tibúrcio chegava no escritório de cara amassada, se rastejando pelos cantos e parecia uma lagartixa anêmica. Já com o copo cheio de café e um sanduíche de mortadela no bolso da calça, fazia piadinhas com a mãe do chefe e ria alto do sapato da secretária.Assim era um escândalo!
Parecia que estava pedindo para ser mandado embora.
Depois fazia a barba no banheiro do escritório, cortava as unhas na pia da cozinha e puxava uma soneca na poltrona do chefe.Adorava uma fofoquinha apimentada e ainda levava um rádio tamanho família, cantarolando alto um rock progressivo.Mas só que Tibúrcio tinha muita sorte e nem sabia!
O poderoso chefão conhecia as dificuldades financeiras daquele pobre rapaz e muitas vezes fazia “vista grossa” para os seus desaforos, acreditando em sua capacidade interior.
Numa certa manhã ensolarada o relógio despertou no mesmo horário, fazendo Tibúrcio se rachar ao meio, com os olhos trincados de terror.
Ele começou a delirar e não conseguia se mexer.Era como se estivesse num filme sinistro, aonde ele se trocava rapidamente para cumprir mais uma jornada de escravidão.Então vestiu o primeiro trapo velho que encontrou na gaveta, numa preguiça de dar dó!
- Que segundona macabra! - rosnou.
Quando conseguiu abrir a porta do escritório, com aquela cara azeda, um outro funcionário estava no seu lugar, dançando axé, na maior alegria do mundo.Tibúrcio quase enfartou. Ele tentou argumentar e pedir satisfações, só que faltava tanto no serviço, que ninguém lhe conhecia mais.
- Quem é este bololó? – perguntavam, indignados.
Ele foi tratado feito um estranho e seu castelo encantado caiu, percebendo que não fazia nenhuma falta ali! O chefe ria à toa, e sem a presença negativa de Tibúrcio, a firma cresceu como um bolo de fubá!
- Coitadinho de mim! – chorava no rodapé da porta.
Foi quando, num grito assustador, caiu da cama suando frio.Tudo não passou de um pesadelo e Tibúrcio gargalhou de felicidade.
Ele ainda tinha um emprego e então se sentia o homem mais importante deste mundo.Levantou-se rápido como uma flecha e colocou o seu melhor terno. Deu um fino trato no cabelo, engraxou os sapatos e saiu pra labuta, cantarolando músicas de Zeca Pagodinho.
Para a secretária Soninha, levava um vasinho de flores, e para o chefe querido, uma caixa de bombons.
- Fazer hora extra no sábado de madrugada?! Que delícia!- cantava.
- Trabalhar até meia noite??! Que privilégio!
Alguns diziam que Tibúrcio estava enfeitiçado, porque usava um crachá com sua foto tamanho família pendurada no pescoço.Mas a verdade era que ele descobriu o seu imenso valor, através do suor do próprio trabalho.
Agora sentia prazer em ser útil e se tornava cada vez mais prestativo.No final do ano, Tibúrcio foi eleito o Funcionário Beleza, sendo contemplado com um Fusca marrom, ano 65.Mas tudo bem, porque para ele o melhor prêmio que poderia receber na vida era a sensação de bem-estar e tranqüilidade ,por oferecer o melhor de si, aos outros.E com muito prazer, é claro!


Silmara Retti -

TOLERÂNCIA ZERO!*


















Quando Cidinha apareceu em casa em pleno churrasco de domingo com aquele rapaz esquisito pendurado no pescoço, feito um carrapato encardido, o mundo desabou.
- Quem é, hein ?- perguntavam, indignados.
Simplesmente o noivo.E por mais que Cidinha fizesse um charme ao apontar as qualidades supremas de Murilo, a família em peso caiu matando. Todos eram contra aquele romance ridículo e ponto final.Só que os dois estavam apaixonados e isto dizia tudo.
Para fugir de tantas fofocas os pombinhos juntaram os trapos indo morar bem longe dos parentes: em Ubatuba, numa praia deserta.
Viveram felizes para sempre, até que num final de semana, lá em São Paulo, o cunhado xereta pensou com seus botões:
- Por onde anda Murilinho e Cidinha, hein ?
Fez que fez , e descobriu o endereço do casal: rua um, cada dois, em frente ao mar.Delícia! Colocou a boca no trombone e rapidamente organizou uma excursão comunitária.Foi convocado para a viagem o primo Olair, o sindico do prédio, a vizinhança da rua e o alfaiate do avô , que parecia ser gente boa .
Um ônibus de turismo ficou pequeno para toda aquela gente, apertado e entupido até o teto, onde o tio mais velho de Cidinha ficou pregado na janela do motorista.
Ora bolas, família é família e merece consideração.
Tudo estava nos trinques, organizado pelo cunhadão animado, que mais parecia um administrador de empresas:
- Isopor para a cerveja e o gelo, a maionese que sobrou do Natal , uma farofa de miúdos para o almoço e uma pimentinha no capricho.Foram cinco horas de viagem com direito a jogo de truco, dominó e até karaoquê.E os comentários pegavam fogo:
- Talvez Murilo estivesse menos chato e mais alegrinho! E com certeza Cidinha menos otária e mais simpática!
Cantavam alto moda de viola, pagode, hino de igreja e tudo era motivo de farra.Não sabiam nem quanto tempo ficariam hospedados na casa do casal...Seria na medida exata para um relacionamento amigável em ritmo de aventura!
Murilo nem sonhava com aquele reencontro amoroso.Quando acordou assustado, às cinco horas da manhã, e deu de cara com toda a família cantando músicas de Zezé de Camargo no seu portão, quase pirou.
Entraram com tudo como uma boiada enlouquecida.Alguns se apresentaram rapidamente :
- Oi, eu sou o primo do tio.Qual tio? O tio do tio do sorvete, claro!
Escancararam a porta da sala e da geladeira.Fritaram ovo, fizeram vitamina de abacate, caipirinha de vodka e mamadeira pro nenê.
- Nossa Cidinha, como você engordou! E o Murilo tá envelhecido, hein? – comentavam entre um petisco e um gole de cerveja.
Em apenas um minuto estavam todos instalados, menos os verdadeiros donos da casa.Era a chupeta jogada no tapete, o varal improvisado no meio da cozinha e o cardápio do almoço grudado na ponta do armário, com os dizeres:
- O cunhado não come sem feijão ...feijão preto .O sindico é vegetariano e o alfaiate topa tudo, até sapato frito, mas desde que seja no azeite.
A coitada da Cidinha fazia as honras da casa e pediu até dinheiro emprestado para fazer bonito.Murilo se acabava no fogão, ajudando a preparar o rango, enquanto o povo só aparecia para comer.Os dois viraram caseiros e passaram a viver para agradar a turma do barulho.Num minuto de visita mudaram os moveis de lugar, queimaram o chuveiro e brigaram feio com direito a tapa na cara do primo pingaiada. E Cidinha nem viu nada porque tava no tanque, com os nervos em fiapo !
Que atire a primeira pedra quem nunca passou por isto em época de temporada...E a gota d’água daquela patifaria toda foi quando sumiram logo cedo, com sacolas, bronzeador, toalhas de banho e um pedaço de torta recheada, avisando que voltariam apenas para o churrasco da tarde.
Cidinha caiu morta de cansaço no sofá e arrancou os cabelos com as unhas.Teve um surto repentino e não pensou duas vezes. Ainda babando de raiva, em urros enlouquecidos, trancou janela por janela, meteu um cadeado no portão e soltou os cachorros.Totalmente transtornada, pregou uma placa no portão, que dizia:
- Fechado para viagem.Motivo: parentes de temporada.
Murilo não ficou para trás. Enquanto manobrava aquele ônibus maluco, gargalhava de alegria.
- Uma banana pra vocês! – e soltou uma gargalhada sinistra
Agora estavam em férias conjugais, bem longe dali. Conta a lenda que nunca mais ninguém ouviu falar do casal enlouquecido; porque sumiram do mapa, sem deixar rastros. Sem mágoa, sem saudades e muito menos sem estresse, lembrando que a temporada é apenas uma temporada e para este contratempo que parece eterno, a tolerância é ZERO!

Silmara Retti

TITIA RICA*












Tia Isaura era elegante, misteriosa e dona daquela pose que parecia a Rainha da Sucata.Com seus setenta anos de idade, estava sempre besuntada com seu óleo facial de sardinha e o creme de essência de siri, passando milhares de horas relaxando diante do espelho.Viúva há mais de vinte anos, só tinha olhos para o gato persa que fazia questão de levar ao Shopping todas as tardes para o passeio de verão.
Jaiminho chupava sorvete como uma criança gulosa, lambuzando todo o focinho de chantilly.Depois miava alto querendo mais; mais pizza de calabresa, mais pipoca doce, mais carinho...Tanto dengo que aquele gato enjoado só faltava comer de garfo e faca.
A sua sorte era que Tia Isaura não suportava a própria família; sentia calafrios só de pensar no cunhado abelhudo, nas irmãs abelhudas e nos sobrinhos endiabrados.Seu único herdeiro sincero era Jaiminho, que nunca lhe pediu um centavo sequer, lhe fazendo companhia nas noites de solidão.Ela não participava de churrasco de noivado, casamento, batizado ou aniversário de parente.Preferia manter-se à distância, evitando assim o contato familiar.
E como aquela gente perturbava, meu Deus!Ligavam para ela todos os dias, pedindo o apartamento de Santos emprestado, o cortador de grama, a furadeira elétrica, o novo CD do Roberto Carlos...Então tia Isaura simplesmente ignorava tanto blábláblá e se dizia completamente sem tempo para ouvir as lamúrias de ninguém.
Não gostava de assuntos populares, como a prestação do consórcio da moto, a reforma da casa em Cunha, a briga do cunhado com a sogra... Ela preferia ficar ao lado de Jaiminho, que era quase mudo e não perturbava, de forma alguma, a harmonia do seu lar.
Nessas reuniões de domingo o seu nome passava de boca em boca, e não se conformavam com o desprezo da tia rica, que se isolava do mundo, só de medo que pedissem umas moedas emprestadas.
Nesta vida existem privilégios que o dinheiro não pode comprar; tia Isaura era muito pobre e nem havia percebido.Ela não tinha com quem compartilhar suas emoções, não tinha alegria de viver, não tinha amigos!
Tinha apenas um gato sonso que roncava a manhã toda no tapete da sala, se fingindo de morto.

- Jaiminho, você não acha que Anselmo Roberto deveria casar-se com Lorys Lóide, no último capítulo da novela?- sorria.
Ele nem piscava o olho.Tia Isaura se remoia de tédio.Então, o que fazer se não tinha mais ninguém para dialogar?
- Você aceita uma xícara de café com bolachas recheadas?- perguntava.
Jaiminho bufava de raiva, porque na verdade era alérgico a café desde bebê e bolachas recheadas lhe davam espinhas na testa.Ela sabia disto e no fundo só falava para lhe irritar.O tempo foi passando e a relação dos dois estava ligeiramente estremecida.
Tia Isaura havia se transformado em uma mulher muito ranheta e Jaiminho não era mais o mesmo lordy de antigamente.Agora se fuzilavam com um olhar penetrante e aquele apartamento duplex estava ficando apertado para os dois.
Mas titia rica também fica doente e ela sentia-se deprimida e completamente só naquele lugar. Choramingava deitada no seu sofá lilás, enquanto Jaiminho apenas roncava nas almofadas de cetim.Ela quase empacotou de vez! Precisava de remédios, de uma sopinha quente ou até mesmo de um carinho gostoso.Aquele gato traíra abria apenas meio olho, numa preguiça sem fim, fingindo que nem estava ali!
Que raiva de Jaiminho! Não prestava nem para lhe fazer um cafuné no pescoço. Era um ingrato que lhe abandonou naquele momento tão difícil! Então Tia Isaura se arrastou até o telefone, desesperada a procura de alguém.Poderia ser o cunhado, a irmã da tia ou a sogra da sogra.O importante era que lhe fizesse companhia.
Não demorou muito para que toda a sua família entrasse pela porta da sala, tremendo até o chão. Já foram ligando a T.V, fuçando nos discos, fritando um ovo e medicando tia Isaura.Todos falavam ao mesmo tempo, riam alto, pulavam na sua cama e eles faziam a maior festa.
Prepararam chá de alho, de picão, de repolho...Sopa de mandioca, de cebola, de mato verde e até de samambaia.
- Toma mais um golinho...- pediam, com jeito.
Ela sorria feliz, apreciando toda aquela euforia com outros olhos; olhos de AMOR. Depois colocaram um som na vitrola, lhe abraçaram com carinho e pediram que contasse as suas histórias da época da Carmem Miranda.Tia Isaura ria com gosto ao se lembrar dos antigos namorados e até da Primeira Comunhão.

De repente calou-se para abraçar cada um deles, matando as saudades, e chorou emocionada, mandando uma “banana” pra Jaiminho.
- Eu estava doente e não sabia.Agora me sinto curada, porque tenho amigos e uma família de verdade.
Não conseguiu dizer mais nada, porque o seu coração estava em festa. Pela primeira vez, o apartamento duplex estava repleto de alegria e ali não tinha mais espaço para tanto egoísmo e solidão.Tia Isaura percebeu que a amizade, a companhia e a solidariedade da sua família não tinham preço, porque se ela fosse pagar tanto carinho assim, teria que pedir emprestado e ainda ficaria devendo o troco!

Silmara Torres Retti