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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

TOLERÂNCIA ZERO!*


















Quando Cidinha apareceu em casa em pleno churrasco de domingo com aquele rapaz esquisito pendurado no pescoço, feito um carrapato encardido, o mundo desabou.
- Quem é, hein ?- perguntavam, indignados.
Simplesmente o noivo.E por mais que Cidinha fizesse um charme ao apontar as qualidades supremas de Murilo, a família em peso caiu matando. Todos eram contra aquele romance ridículo e ponto final.Só que os dois estavam apaixonados e isto dizia tudo.
Para fugir de tantas fofocas os pombinhos juntaram os trapos indo morar bem longe dos parentes: em Ubatuba, numa praia deserta.
Viveram felizes para sempre, até que num final de semana, lá em São Paulo, o cunhado xereta pensou com seus botões:
- Por onde anda Murilinho e Cidinha, hein ?
Fez que fez , e descobriu o endereço do casal: rua um, cada dois, em frente ao mar.Delícia! Colocou a boca no trombone e rapidamente organizou uma excursão comunitária.Foi convocado para a viagem o primo Olair, o sindico do prédio, a vizinhança da rua e o alfaiate do avô , que parecia ser gente boa .
Um ônibus de turismo ficou pequeno para toda aquela gente, apertado e entupido até o teto, onde o tio mais velho de Cidinha ficou pregado na janela do motorista.
Ora bolas, família é família e merece consideração.
Tudo estava nos trinques, organizado pelo cunhadão animado, que mais parecia um administrador de empresas:
- Isopor para a cerveja e o gelo, a maionese que sobrou do Natal , uma farofa de miúdos para o almoço e uma pimentinha no capricho.Foram cinco horas de viagem com direito a jogo de truco, dominó e até karaoquê.E os comentários pegavam fogo:
- Talvez Murilo estivesse menos chato e mais alegrinho! E com certeza Cidinha menos otária e mais simpática!
Cantavam alto moda de viola, pagode, hino de igreja e tudo era motivo de farra.Não sabiam nem quanto tempo ficariam hospedados na casa do casal...Seria na medida exata para um relacionamento amigável em ritmo de aventura!
Murilo nem sonhava com aquele reencontro amoroso.Quando acordou assustado, às cinco horas da manhã, e deu de cara com toda a família cantando músicas de Zezé de Camargo no seu portão, quase pirou.
Entraram com tudo como uma boiada enlouquecida.Alguns se apresentaram rapidamente :
- Oi, eu sou o primo do tio.Qual tio? O tio do tio do sorvete, claro!
Escancararam a porta da sala e da geladeira.Fritaram ovo, fizeram vitamina de abacate, caipirinha de vodka e mamadeira pro nenê.
- Nossa Cidinha, como você engordou! E o Murilo tá envelhecido, hein? – comentavam entre um petisco e um gole de cerveja.
Em apenas um minuto estavam todos instalados, menos os verdadeiros donos da casa.Era a chupeta jogada no tapete, o varal improvisado no meio da cozinha e o cardápio do almoço grudado na ponta do armário, com os dizeres:
- O cunhado não come sem feijão ...feijão preto .O sindico é vegetariano e o alfaiate topa tudo, até sapato frito, mas desde que seja no azeite.
A coitada da Cidinha fazia as honras da casa e pediu até dinheiro emprestado para fazer bonito.Murilo se acabava no fogão, ajudando a preparar o rango, enquanto o povo só aparecia para comer.Os dois viraram caseiros e passaram a viver para agradar a turma do barulho.Num minuto de visita mudaram os moveis de lugar, queimaram o chuveiro e brigaram feio com direito a tapa na cara do primo pingaiada. E Cidinha nem viu nada porque tava no tanque, com os nervos em fiapo !
Que atire a primeira pedra quem nunca passou por isto em época de temporada...E a gota d’água daquela patifaria toda foi quando sumiram logo cedo, com sacolas, bronzeador, toalhas de banho e um pedaço de torta recheada, avisando que voltariam apenas para o churrasco da tarde.
Cidinha caiu morta de cansaço no sofá e arrancou os cabelos com as unhas.Teve um surto repentino e não pensou duas vezes. Ainda babando de raiva, em urros enlouquecidos, trancou janela por janela, meteu um cadeado no portão e soltou os cachorros.Totalmente transtornada, pregou uma placa no portão, que dizia:
- Fechado para viagem.Motivo: parentes de temporada.
Murilo não ficou para trás. Enquanto manobrava aquele ônibus maluco, gargalhava de alegria.
- Uma banana pra vocês! – e soltou uma gargalhada sinistra
Agora estavam em férias conjugais, bem longe dali. Conta a lenda que nunca mais ninguém ouviu falar do casal enlouquecido; porque sumiram do mapa, sem deixar rastros. Sem mágoa, sem saudades e muito menos sem estresse, lembrando que a temporada é apenas uma temporada e para este contratempo que parece eterno, a tolerância é ZERO!

Silmara Retti

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