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domingo, 16 de agosto de 2009
APENAS EU
Desde criança sempre fui uma pessoa que sabia escolher muito bem as amizades.Mantinha uma certa distância dos meus irmãos por não compartilharmos os mesmos objetivos e suas ideias davam a nítida impressão que havia um abismo entre nós.Eu me isolava deles, frequentando um outro tipo de ambiente onde não tinha lugar para suas baboseiras, que me deixavam bastante irritada.Tudo naquela casa me inspirava mofo e a vidinha monótona que levavam era um grande motivo para que eu quisesse sumir para bem longe dali.
Para bem longe do meu pai, que falava tudo errado e nem sabia escrever seu próprio nome; para bem longe daquelas bacias de roupa que minha mãe lavava para fora, com sua barriga pregada o dia inteiro num tanque velho...E eram tão pobres que não percebiam que eu era diferente daquilo tudo.Enquanto amassavam arroz com banana, eu ficava apenas pensando nas pessoas que realmente faziam o progresso da Humanidade.
Quando completei 18 anos de idade arrumei uma mala emprestada e atravessei a linha do trem, querendo esquecer para sempre o barulho da panela de pressão, cozinhando um angu, que deveria render para dez pessoas.Por achar que era um ser único, fui viver num quartinho minúsculo que cabia apenas alguns livros empilhados e uma cama de solteiro.Amigo não tinha nenhum.
Nunca joguei conversa fora com um desconhecido e ninguém conseguia entender a minha ganância de vencer na vida sem perder tempo com tantas futilidades.
Futilidades como almoçar com toda a família reunida num domingo de chuva; dividir um patrimônio com uma outra pessoa ou criar filhos interesseiros.E é interessante como a gente acha que a velhice só chega para os outros e quando percebi estava ali, sem visitas, sem família e sem ninguém.Somente com tudo aquilo que havia conquistado durante minha vida toda: o armário de ferro maciço, único amigo que me fazia companhia naquelas noites de solidão.
Silmara Retti
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