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domingo, 16 de agosto de 2009
AO PAPAI *
Eu sentia saudade do meu pai porque ele era um homem muito ocupado e todas as vezes que acordava para ir à escola, ele ainda dormia .Era um sono pesado que fazia com que ficasse o dia todo na cama, resmungando com qualquer um que fizesse um barulho diferente.Minha mãe ouvia tudo calada, passando toda a roupa em silêncio.Ele era o chefe da casa e sabia impor o seu lugar!
Depois quando anoitecia, assobiava uma cantiga boêmia, colocando a gente no seu colo, com muito cuidado para não amassar a camisa de cetim.E lá ia ele para o boteco da esquina tentar a sorte no jogo do bicho, porque na verdade a vida estava difícil pra todo mundo e a nossa despensa estava ficando cada vez mais vazia.
Eu ficava observando o seu jeito imponente de andar e sentia orgulho em ser seu filho.
O meu pai era conhecido por toda a cidade e não parava de vir gente chamar por ele no portão.Às vezes era o açougueiro, depois o dono da quitanda e até algumas mulheres que faziam minha mãe sufocar o rosto no travesseiro para que não ouvirmos o seu choro desconsolado!
- Homens são homens - ele dizia quando chegava de manhãzinha com o corpo cambaleando de tanto “cansaço”.
Trazia o leite e o pão num papel todo amassado, fumava um cigarrinho de palha e preparava uma boa pinga só para relaxar um pouco.As pessoas falavam bobeiras sobre ele, porém eu nunca acreditei, pois era o meu pai e merecia respeito.
Talvez não pudesse pagar a conta de água e luz, comprar uma televisão colorida para a nossa sala ou nos proporcionar uma vida melhor, mas nos dava o seu exemplo e quando eu crescesse queria ser igualzinho a ele. Depois encostava a cabeça no seu ombro e pensava o quanto éramos parecidos. Só que papai não tinha os olhos verdes como os meus.Papai tinha os olhos sempre vermelhos!
SILMARA TORRES RETTI -
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