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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

RECOMEÇO












Luisinho sentia saudades do pai porque ele era um homem muito ocupado, cheio de afazeres, e todas as vezes que ele acordava cedo para ir ao colégio, seu Pedro ainda dormia esparramado no chão da sala .
Era um sono pesado que fazia com que ficasse o dia todo de molho, resmungando com qualquer um que desse um “piu” sequer, que fizesse um barulho diferente ou lhe perturbasse as idéias .
Xingava as crianças, falava palavrões cabeludos e não queria a luz do sol no seu rosto ...E dona Janice ouvia tudo calada, no mais puro silêncio apenas para não atiçar a ira do marido .
Afinal de contas ele era o “Poderoso” , o “Rei do Trovão” e sabia impor o seu lugar a golpe de cinta .Para quem não entendesse o recado , um grito só bastava , não precisando usar nenhum outro argumento .Não tinha palavras doces e nem tampouco qualquer outra forma de carinho .Aliás, seu Pedro se dizia muito macho e carinho era fricote de boiola .
Então Luisinho foi aprendendo, com o paizão, a conseguir as coisas no tapa e com muita porrada .E dentro da sua casa não existia espaço para os direitos de uma criança .Somente os deveres :
- Dever de permanecer calado até a segunda ordem .
- Dever de engolir tanta violência, tanto descaso, tanto “poder”, resumido numa única pessoa :Seu Pedro , o Rei do mocó .
Um pai que apenas poderia oferecer à aquelas crianças o seu exemplo de vida .
Depois que anoitecia ele assobiava uma cantiga boemia, colocando a filharada em seu colo, com todo o cuidado para não amassar a calça de linho .
Era famoso na vizinhança e não parava de ir gente chamar por ele no portão .As vezes era o dono do açougue, da quitanda e até algumas mulheres que faziam dona Janice sufocar o rosto no travesseiro, chorando baixinho para ninguém ouvir .Mas não tinha coragem alguma de mudar esta história, como a maioria das mulheres que sofrem qualquer tipo de violência doméstica .
A opressão é uma violência que dona Janice não deveria permitir porque ela também agride e deixa marcas na alma !
Quando seu Pedro chegava ao amanhecer, com o corpo cambaleando, fumava um cigarrinho já com o copo na mão , só para relaxar .
Esta tirania ridícula humilha qualquer pessoa, mesmo que este semelhante seja somente um filho.Porque se não podemos ser bons para eles, não poderemos ser para mais ninguém !
A escola da vida começa dentro da nossa própria casa, com a nossa família e seu Pedro não tinha os olhos verdes , nem azuis ...Tinha os olhos vermelhos!
Até que dona Janice ficou sabendo do A .A
( alcoólatras anônimos ) e com muito medo de lhe deixar nervoso, deixou um bilhete sobre a cama com o endereço anotado a lápis .Escreveu ainda que o alcoolismo era uma doença e que seu Pedro precisava querer se ajudar .Nisso ele percebeu que estava sozinho na casa, sem ninguém para dar ordens, impor os seus limites ...Olhou ao redor e nada ! Apenas retratos pelas paredes.Passaram-se dias e noites ...
Dona Janice e seu Pedro apenas se reencontraram na primeira reunião do A.A ., porque ela o esperava de braços abertos somente para lhe mostrar o caminho de um recomeço .Não seria fácil , mas estaria ao seu lado para lhe amparar, lhe dando a maior força e lhe ensinando que ainda vale a pena acreditar na vida e em si mesmo .
Silmara Retti

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