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domingo, 16 de agosto de 2009

AS MENINAS DO SEU JACÓ*


















As meninas do seu Jacó foram criadas no cabresto, na mais total ordem e educação a moda antiga, no ritmo da vara de marmelo.E ele sentia bastante orgulho disto, pois sua vontade era Lei Suprema e podiam chorar lágrimas de ¨cebola¨ que não tinha jeito que desse jeito .
Enquanto as meninas eram pequenas, tudo bem.Mas cresceram tão depressa que logo ficaram loucas da vida com o pai severo, porque na verdade serviam de chacota para as outras coleguinhas.
Seu Jacó não tinha o direito de castrar a liberdade daquelas meninas que só queriam viver um pouco em paz; dar uma gargalhada gostosa, ir ao bailinho da escola e usar um vestido um pouco mais enfeitado, porém ele era um osso duro de roer e não tinha conversa, não.
Acho que Seu Jacó não sabia que mais importante do que uma varinha de marmelo estralada no couro,era uma boa conversa ao pé do ouvido. E muitas coisas da vida elas aprenderam com revistas escondidas dentro do caderno, histórias cabeludas que contavam uma para a outra e mexericos sem pé nem cabeça.
O Natal era comemorado num almoço triste onde se lamuriavam, desenterrando os defuntos do passado. O Ano Novo era bobagem de gente rica e o Carnaval, ah, o Carnaval era uma bomba que caia direitinho em cima de Seu Jacó, que fazia de tudo para não despertar a curiosidade das meninas.
Ele se fingia de morto, repousando na rede da varanda.Só que a cidade toda estava em festa e não tinha como negar.As meninas já ficaram na espreita, matutando um plano de enganar o próprio pai.
Desta vez queriam ver de perto tudo que o misterioso Carnaval podia oferecer e pronto.Sem que ninguém percebesse passaram a tesoura nas saias longas, pintaram as bocas de batom vermelho e conseguiram a tal da camisinha.Porque diziam por ai que ela evitava tudo; gravidez, doenças... AIDS.A camisinha apenas não evita o sexo livre, muitas vezes precoce demais, feito por fazer ou simplesmente porque é Carnaval e vale tudo.E numa explosão de euforia fugiram escondidinhas a procura de novas emoções, desde que pudessem desafiar os limites impostos pela sociedade, pela família, pelo pai chato e careta.
Dentro dos bolsos tinham maços de cigarros, Lança Perfume e alguns preservativos.
Era a garantia para uma noite de prazer.Deveria ser a melhor de todas, com uma pessoa especial que compreendesse seus desejos e que desse o melhor de si. Não precisariam casar, mas desejavam um romance que durasse para sempre ou por quatro noites eternas.
Será? Seria a primeira vez e talvez com um pierrô muito louco que estaria preocupado apenas com o seu próprio carnaval.
Aconteceram os primeiros olhares insinuantes seguidos por um toque de mãos e a camisinha estava dentro do bolso, tudo bem.
Sorriram.Silêncio.Será que realmente era o momento certo daquelas meninas? A Quarta-feira de Cinzas estava próxima e depois que lavassem o rosto, a máscara do pierrô estaria amassada numa esquina qualquer, e aquele homem tão especial voltaria a ser mais um rosto desconhecido na multidão.
Então as meninas no Seu Jacó aprenderam na rua que sexo não é brincadeira de criança e que estar “equipada” com uma camisinha não significa que tem que ser agora.A varinha de marmelo nunca explicou a elas que o corpo é um gerador de vida. A liberdade começa a partir do momento que respeitamos o que é nosso e que sexo é muito bom quando feito por amor e com amor!


SILMARA TORRES RETTI -

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