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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

SIMPLESMENTE VOCÊ


















Já não sabia há quanto tempo estava olhando pelas grades daquele quarto triste e vazio, mas repleto de pensamentos confusos que me faziam ter insônia durante a noite e delírios constantes no decorrer dos milhões de minutos, homicidas de toda a energia concentrada nos meus olhos.Olhos negros, sonolentos e dopados pelo mesmo psicotrópico de sempre, receitado após as refeições como se fosse um docinho de abóbora.
Agora eu não era mais o moleque comum que sorria no quadro da parede, onde não me enquadrava num retrato feliz.Era mais um doente da sociedade, isolado da minha própria família em nome da benevolência humana e jogado junto com o meu medo diante de um psiquiatra; dono absoluto do meu corpo, do meu destino e dono de mim!
Minhas pernas tremiam de tantos remédios e quando passei as mãos nos cabelos percebi que foram picotados. Melhor assim porque não precisava mais pentear, como antes fazia.Não precisava mais ser o bonitinho para ninguém e a ala feminina do manicômio era saturada por mulheres frias, silenciosas e silenciadas pela solidão.
Chamadas apenas de LOUCAS VARRIDAS, que arrastavam suas caras sonsas pelos corredores, a procura de motivos que as fizessem acreditar que teriam um almoço familiar ao lado daquele marido distante, que nunca mais apareceu. Igual a mim.Tínhamos as mesmas caras e o mesmo uniforme pálido que não definia nossas curvas, nos transformando em seres assexuados e “alheios”.
Ali dentro eu não era mais o estudante de engenharia eletrônica, que sempre fui . Este homem havia ficado para trás dos muros, num passado que não fazia parte da minha nova personalidade.
Uma camisa de força havia nos separado e quando as pessoas ao meu redor perceberam que eu não poderia ser mais aquele homem sociável, subitamente me prenderam dentro de um camburão no qual fui conduzido para um outro mundo, confinado a permanecer vagando entre os demais desiludidos, feito carcaças humanas entupidas por calmantes, apenas para não incomodar .
Ao meu lado estava o armário de ferro, companheiro de longas tardes de primavera, verão, outono e inverno !
Era o meu único amigo e quando quiseram trocá-lo por uma cômoda nova, protestei como pude para que pudesse ficar ali comigo. Este hospital tem um jardim florido e muitos bancos pintados por tinta clara.Depois das árvores coloridas tem um muro alto que vai além dos meus olhos e da minha imaginação.E sei que depois dele tudo é diferente e perfeitamente normal.As pessoas do outro lado não babam e não adoecem de pavor ao saber que não existe futuro...Estou aqui a espera.Estou aqui esperando que um dia não exista mais nenhuma doença mental; que um dia não exista mais esta solidão e que um dia alguém venha apenas me ver.Podem me trazer pipocas, dar comida na minha boca e me fazer uma graça sem me deixar sem graça por eu não achar mais nada engraçado.
Vocês podem percorrer este jardim desbotado, passar pelo isolamento e depois ir embora.Abrir aquele portão de ferro com os olhos impregnados de piedade, dar um aceno distante, virar as costas e simplesmente ir embora.
Você já me deu a certeza de um destino incerto;me deu calmantes para ficar tranqüilo dentro de um manicômio; me deu uma camisa de força para não me rebelar contra uma estrutura falida, um sistema que castrou a minha liberdade de poder simplesmente tomar cafezinho no bar da esquina ...E agora, vai me dar o quê?!
Fechei os olhos devagarzinho e me transformei num sonho onde pudesse distrair os pensamentos e alegrar a minha imaginação sonâmbula.Agora não sou mais um som.
Um mero som que os surdos não ouvem, pois o meu cantar incomoda os seus ouvidos e os hipócritas ignoram.Omitem. Agora sou mais que um conjunto harmonioso.Cansei de me perder no Cosmos a procura de algo que me tornasse vivo perante a sociedade.
Algo que me desse o poder de libertar sorrisos aprisionados atrás de um simples radinho triste que cantarola musicas antigas.
Agora sou eu mesmo que acabou de encontrar-se...Não na simplicidade do meu ser, mas na grandiosidade dos meus sentimentos.
Estou aprisionado no seu preconceito. Preciso ser livre.Neste verão quero vestir uma camisa de força.Quero usar camiseta, como você.

Silmara Retti
Fábio, ainda amo você.

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