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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O MAÇO DE CIGARROS



















Desde que Dedéia foi até a esquina para comprar um maço de cigarros e nunca mais voltou, seu Orlando caiu de cama na maior melancolia, dormindo com sua foto debaixo do travesseiro, esperançoso que um dia Dedéia voltasse.Pobre Mulher! Decerto teve um mal súbito esquecendo de vez o caminho de volta. Justo Dedéia que sempre foi meio esquecida, avoada e abololada!
Tanto que certa noite, enquanto trocavam chameguinhos de amor, ela simplesmente esqueceu o seu nome lhe chamando por... Fernando. E depois, com a cara mais lambida do mundo desculpou-se dizendo que Fernando era a filho de sua irmã caçula.
Mas que irmã, se Dedéia era filha única?! Que cabeça!
Ela trabalhava o dia inteiro na quitada da Lurdinha e nunca se atrasou nem um minuto sequer. Até que diante de tamanha desventura se perdeu, durante cinco anos, num palmo de rua; evaporando feito fumaça. E seu Orlando tá que chora aos pés da Santa, implorando o seu amargo regresso mesmo que fosse para dar o último beijo de adeus!
Queria só um tempinho de nada para lhe perguntar, olho no olho, o motivo de seu estranho sumiço.
- Por que, Dedéia? Por que?
Ela nunca foi aquela belezura, mas não precisava exagerar assim no passeio.
Cinco anos são cinco anos e agora seu Orlando era um homem viúvo e muito bem viúvo de mulher viva. E pagava o maior mico com a vizinhança!
O falatório da vila era que Dedéia tinha outro... Outro homem, outra paixão como pão com queijo, bife com ovo, miojo com Sazon, pipoca com mostarda ...Mas o pior cego é aquele que não consegue enxergar a um palmo do seu nariz e ele continuava a venerar suas fotos pregadas pelos corredores da casa.
Era “Dedéia” de noiva, de trancinhas, de óculos de sol, de pijama... E a sorte de Dedéia era que seu Orlando havia se enterrado do portão para dentro com todas as suas lembranças, porque logo ali perto a boneca desfilava para lá e para cá com uma peruca ruiva e óculos escuros.
Era tão descarada que durante todo esse tempo rachava o bico ao ver que ele estava envelhecido, bitolado e fiel ao antigo Amor.
Nisso sentia-se a “miss Casanga” , dizendo para si mesma que era uma mulher inesquecível, poderosa e que deixava marcas no pedaço.
Só que tudo tem a sua hora. Finalmente a batata de Dedéia estava assando!
Seu Orlando não agüentou tanta saudade e resolveu arrumar seus pertences para ir embora longe dali, onde pudesse afogar as mágoas, numa boa. Arrumou uma maleta de couro do tamanho certo para colocar o “Mundo de Dedéia” ali dentro; sua lingiere, suas sandálias douradas e o seu retrato falido.
Fragmentos de um romance inacabado, separado para sempre por um bendito maço de cigarros! E pensando desta forma não falou nada à ninguém.
Não tinha rumo, destino, preocupações...NADA! Queria apenas “definhar” pelas ruas da cidade. Ruas ingratas que levaram sua mulher amada, da noite para o dia, deixando em seu lugar uma dor no peito que não tinha fim! Saiu na pontinha dos pés com a cabeça enterrada num buraco. Talvez se não sentisse tanta pena de si mesmo conseguiria erguer o pescoço e dar de cara com a cara da própria Dedéia, que passou ao seu lado com seu disfarce sinistro.
Então abriu bem os olhos e conseguiu ver o que nunca havia conseguido enxergar antes: o cinismo de Dedéia desfigurada por trás dos óculos escuros e embaixo de uma peruca ruiva. Ah, Dedéia maldita!
Qualquer coisa que ele falasse seria mentira. E qualquer mentira teria som de picaretagem. Seu Orlando escancarou aquela maleta, deixando que o vento levasse suas fotos, suas mágoas, suas recordações! Ela tentou se desculpar, pedir uma chance, mas no entanto já havia se perdido na sua própria hipocrisia ,desde aquela noite que nunca mais voltou. E uma mulher assim, feito aquela, não precisaria mesmo voltar. Poderia partir de vez, levando consigo a certeza que não deixaria mais saudades.
Silmara Retti & Raphael Retti

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