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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O ESPELHO TRINCADO




















Paulinho sentia muitas saudades do pai porque ele era um homem muito ocupado e todas às vezes que acordava bem cedinho para ir ao colégio, Seu Pedro ainda dormia esparramado no chão da sala.
Era um sono pesado que lhe deixava de molho o dia inteiro, xingando qualquer um que fizesse um barulho diferente, ou lhe perturbasse as idéias.Dizia um palavrão cabeludo e não queria ver a luz do sol no rosto...E dona Janice ouvia tudo calada, no mais puro silêncio, apenas para não incomodar o Santo Poderoso.
Afinal de contas ele era o Poderoso, o Rei do Trovão e sabia impor exatamente o seu lugar á golpe de unhas.Para quem não compreendesse o recado, um grito só bastava.
O menino Paulinho foi aprendendo, com o paizão, a conseguir as coisas no tapa e dentro da sua casa não havia espaço para os direitos de uma criança.Somente para os deveres:
- Deve permanecer calado até segunda ordem.
- Deve engolir a violência, o descaso, o poder, resumido numa única pessoa: Seu Pedro, um pai que só conseguia oferecer àquelas crianças o seu exemplo de vida.
Depois que anoitecia, ele assobiava uma cantiga boêmia, despedindo-se da molecada, com todo o cuidado para não amassar a camisa de linho.Era famoso por toda a vizinhança pelo seu jeito arrogante de ser.
Por mais que Dona Janice sofresse, não tinha coragem de mudar esta história.E a opressão é uma forma de violência que ela também agride e deixa marcas na alma!
Quando seu Pedro chegava de manhãzinha, com o corpo cambaleando, fumava um cigarrinho já com o copo na mão, só pra relaxar.Será que precisariam engolir aquela tirania ridícula, que apenas humilha o seu semelhante? Mesmo que este semelhante seja um filho, porque se não pudermos ser bons para eles, não conseguiremos ser pra mais ninguém.
A escola da vida começa na nossa própria casa, com a nossa família.
Até que Dona Janice ficou sabendo sobre o A.A ( Alcoólatras Anônimos) e com muito medo de atiçar a sua ira, deixou apenas um bilhete com o endereço anotado à lápis.Nele escreveu que o alcoolismo é uma doença e que Seu Pedro precisava buscar ajuda.Enquanto isto estaria morando com sua mãe, para que pudesse pensar melhor sobre o assunto.
No primeiro momento ele relutou; teve um chilique, socou a mesa, deu gargalhadas irônicas.Depois a fera foi amansando, dando lugar a um homem frágil e solitário.Não tinha mais ninguém naquela casa e apenas os retratos antigos poderiam ouvir suas lamentações.Passaram-se dias e noites.
Como estariam Janice, Paulinho, Dorotéia, Francisco? A vida parecia não ter mais sentido sem a sua família. Os amigos de bar continuavam marcando presença, mas tudo era diferente.Começou a ficar relaxado, com o cabelo sujo e a barba sem fazer.Emagreceu alguns quilos e caiu de boca no gargalho.
Chegou no fundo do poço.Sem mais nada, sem ninguém.
Enquanto isto Janice mantinha sua palavra: - Só volto se houver mudanças!
As amigas deram o maior apoio, admirando a determinação daquela mulher.
Apesar de morarem no mesmo bairro, nunca mais se viram.Dona Janice e Seu Pedro apenas se reencontraram na sua primeira reunião no A.A, onde ele chegou meio tímido, mas quando enxergou a mulher sentadinha num canto, sentiu-se amparado.Ela sorriu e ele também.
Que alegria! Com certeza Seu Pedro conseguiria superar, porque ela o esperava de braços abertos somente para lhe mostrar um novo caminho.Não deveria ser fácil, mas estaria do seu lado para lhe amparar, se tropeçasse, lhe ensinando que vale a pena acreditar na vida e principalmente em si mesmo.


Silmara Torres Retti -

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