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domingo, 16 de agosto de 2009

CAIÇARA GENTE BOA!



















Tininha é fruto de uma família tipicamente caiçara; daquelas que se delicia com um copo bem cheio de café com farinha ao clarear do dia, balançando-se de lá pra cá numa rede pendurada na varanda.
Só conhecia o tio Nenéco, a avó Balbina, o primo Lilico...Tudo gente boa, que faziam parte da história de Ubatuba desde os velhos tempos.
Tio Nenéco era pescador, a avó cozinheira e Lilico, bem Lilico era nadica de nada!
Para Tininha o mundo se resumia naquela família grandiosa, que todos as tardes se reunia para “jogar conversa fora ” , contando suas proezas para quem quisesse ouvir .
Não tinha quem não se encantasse com a lenda da “Gruta que Chora”, com o romance da sereia e o marinheiro ou até mesmo com as histórias de pescador que tio Nenéco contava como que se fossem verdadeiras. E todos fingiam acreditar em cada “causo”, deixando aquele homem feliz da vida ao divulgar tamanha aventura!
A cabeça de Tininha rodava, matutando em tudo aquilo que ouvia e sentia muito orgulho em possuir uma família repleta de tradição e cultura.Cultura popular.
Cada um deles tinha o seu sotaque, o seu jeito de enxergar a vida e o seu próprio perfil, traçado muitas vezes com o suor do trabalho.
Plantavam para conseguir colher o alimento da casa, buscando um futuro melhor para todos.
Era a mandioca, a acerola, a banana...Tudo bem gostosinho para que pudessem ter bastante saúde.
Cultivavam suas lendas, histórias e crendices que vinham sendo divulgadas de pais para filhos durante anos...E todos eram felizes naquele vilarejo de raízes caiçaras.Tininha não acreditava que existisse outro lugar além das fronteiras de Ubatuba, porque logo atrás das montanhas não conseguia enxergar mais nada.Depois observava a imensidão do mar que se perdia no horizonte, achando que ali era o fim de tudo.
Essa tal de Parati, Caraguá ou São Luíz pareciam muito , mas muito distantes de seu mundo e talvez fossem invenção de tio Nenéco .Uma daquelas bem “cabeludas”, que ele enchia a boca para contar!
Até que chegou o grande dia de Tininha.O dia que sua avó lhe arrumou bem bonita, dizendo que já era uma mocinha e precisava ir a escola.
Tudo “bobiça”! - pensou - Pra quê ir a escola se aprendera tudo com tio Nenéco? Sabia quando mudaria a lua, quando subiria a maré e até mesmo quando teria o noroeste.
Mas isto não era o mais importante na vida.Tininha precisava aprender cada vez mais, ampliando seus conhecimentos e ultrapassando os próprios limites.
Precisava tomar consciência sobre seus direitos e deveres, tornando-se uma cidadã de muito respeito. Era preciso que eles conheçam outras pessoas, novas idéias e diferentes culturas.
O mundo não se resumia na família de Tininha, pois o Brasil é um país rico em diversidades culturais.
Com certeza haveria outros tios tão interessantes como o tio Nenéco; outras avós amorosas como dona Balbina e milhares de Lilico espalhados em outros lugares e ela os descobriria bem mais perto do que imaginava.
Tininha chegou à escola carregando apenas sua mochila colorida. Já sentia saudades do aconchego do lar, se encolhendo num cantinho qualquer:
- Ê hora difícil de passar!
Lá não tinha café com farinha e nem tampouco histórias de pescador.
Mas tinha letrinhas engraçadas que formavam uma palavra diferente, números que somavam e “tiravam”, crianças que procuravam em outras crianças um olhar conhecido.
E de conhecido, não tinha nenhum! Aliás, era um “monte” de desconhecidos que apenas não se conheciam de verdade.
Era o Maneco da venda, o filho do professor, a prima da prima da vizinha...Todos que via passar, às vezes de longe, às vezes de perto, porém sem nenhuma afinidade. Que dureza!
O restante era uma gente esquisita que não tinha cara de nada.Nem cara de pescador e muito menos de neta de cozinheira. Tininha espichava o canto do olho a procura de alguém que falasse sua “língua”.Que pudesse ser amigo.
Só que para ela amigos eram simplesmente os “iguais”.Tininha não sabia que para se ter amizade é preciso conhecer e respeitar as “diferenças”.
Amigo de verdade tem que ser leal, sincero e companheiro.Pode ter sotaque caipira de Zezinho, que nasceu em Taubaté; o modo de falar cantado de Jobim, que nasceu no Rio de Janeiro ou até mesmo o jeito nordestino de Gonzaga.
Ubatuba é uma cidade turística e hospitaleira, que recebe a todos com muito carinho.Existem pessoas que vêm apenas para conhecer; passar uma temporada, porém acabam se apaixonando por suas belezas naturais e de repente chegam para ficar, trazendo na bagagem um pouco de sua cultura .
E ai tudo se transforma em festa, porque cada um pode expressar as suas tradições; contar sobre suas lendas, suas crendices, suas histórias.
É como que se estivéssemos viajando para diversos lugares do Brasil, sem sair do lugar!
Tininha fez amizade com Mariana, que nasceu em Goiás, estado que se localiza na região centro-oeste do Brasil.Aprendeu que lá é um lugar muito bonito também, com suas festas populares, festejos religiosos que figuram entre os mais famosos do país.É uma mistura de fé, esperança, determinação que caracterizam suas raízes .
A capital de Goiás é Goiânia, onde as opções de turismo e lazer estão por toda parte.
A avó de Mariana, que mora na capital, também costuma fazer doces deliciosos com as frutas regionais. E só de falar, dá água na boca .
Eleutério é mineiro e veio para Ubatuba com toda a família. Ele explicou que a capital de Minas Gerais é Belo Horizonte. As feiras típicas acontecem em quase todas as cidades mineiras, oferecendo os mais genuínos exemplares do belo e rico artesanato regional.Nestas feiras, sempre muito famosas, além da mostra e comercialização das obras artesanais, que incluem quadros, esculturas, rendas, bordados e doces, é possível encontrar a mais pura gastronomia de Minas.
As delícias da cozinha mineira são conhecidas e apreciadas em diversos lugares do mundo.Os pratos típicos que freqüentavam a mesa farta dos antepassados; continuam sendo preparados em fogões á lenha, nos inúmeros restaurantes mineiros.
O tutu com torresmo, o feijão tropeiro, o frango caipira com quiabo, os doces de frutas em caldas, biscoitos, bolos e o pão de queijo de Minas despertaram a imaginação e a gula de todos.
Tininha lembrou-se da sua casa, do tio Nenéco, da avó Balbina, do primo Lilico.Ah, eles precisavam conhecer as histórias que ela ouvia todos os dias no intervalo da aula. Assim teve uma idéia; chamaria Eleotério, Gonzaga, Mariana, Jobim e Zezinho para conhecer a sua família, saboreando um delicioso peixe com banana ao som das histórias de tio Nenéco;
Isto sim seria uma união cultural porreta !
O Brasil é um país belíssimo e reconhecido internacionalmente por suas belezas naturais e por sua gente bonita, alegre e criativa .
Uma gente que têm muito que contar e mostrar; para que isto aconteça é preciso abrir os braços, sem fronteiras, recebendo com carinho e respeito todas as nossas diversidades culturais, pois não somos apenas cidadãos de Ubatuba, como Tininha pensava ser.
Somos todos cidadãos BRASILEIROS!


Silmara Retti

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