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domingo, 16 de agosto de 2009
BASTA, EU QUERO PAZ!*
- Basta, eu quero paz! - gritava Helena impecavelmente vestida de branco, organizando uma passeata pública na avenida principal da praia.Gritava tanto que não conseguia ouvir o murmúrio triste de seu filho, o pequeno Lucas, no canto da sala, a espera de sua única visita durante toda a semana.
- Ela não chega nunca.- reclamava.
Era sempre assim...Quando Helena não estava com as amigas de copo, estava com as amigas de dança, tentando curtir a vida numa boa, sem lembrar que dois olhinhos atentos a esperavam todos os dias, como se a qualquer momento pudesse ter uma surpresa feliz.E a sua maior surpresa, era dormir sentado no colo da avó, sem prestar atenção nas histórias da Carochinha que ela contava apenas para lhe fazer sorrir.
Desde que Helena resolveu abandonar tudo na vida para ser uma mulher independente, deixou para trás uma criança que desejava apenas fazer parte de seu destino.E não foi!
Por mais que dona Lídia fosse uma super avó, Lucas sentia fome de carinho, sede de beijos e uma vontade louca de ter Helena por perto.Só um pouquinho mais, ali junto a ele.Porém Helena ainda estava na adolescência mental, curtindo seus trinta anos rebeldes, protestando contra tudo e contra todos.
Queria ser livre, sem censura e sem ninguém.Brigava por isto e aquilo, não se dando conta que para receber é preciso dar.
Talvez somente um momento de paz á alguém.Mas se somos egoístas, não temos o direito de gritarmos ao mundo que queremos paz.
Porque a bondade começa em casa, com as pessoas que convivem conosco, para que ela possa se estender do portão para fora, abraçando os vizinhos como se fossem da nossa própria família.Se você não é um bom filho ou um bom pai, não pode ser um bom homem.
Helena fazia parte de todos os movimentos revolucionários da época, sem perceber que fazia uma guerra de nervos com as pessoas que mais lhe amavam, pedintes e carentes de seu amor!
Dona Lídia distraia Lucas com brincadeiras no fundo do quintal, bolo de chocolate, pipoca quentinha...Mas as crianças sentem quando não são amados os suficientes, ficam inseguras e cheias de medo!
Na última sexta feira enquanto ele a aguardava com o peito apertado, Helena exigia o fim da violência.E a maior de todas era aquela que cometia contra o seu próprio filho!
Então muitos dias se passaram e Lucas não se cansava de tanto esperar o seu dia feliz.
Até que de repente percebeu que todas as plantas do jardim haviam crescido e ele também.O céu ficou mais bonito e um perfume de mãe lhe devolveu a alegria de viver.
Foi quando avistou Helena, um pouco mais velha e vivida também, virar a esquina, indo direto ao seu encontro.
Parecia mais uma daquelas visitas rápidas, que duravam apenas um minuto, mas a apertaria tão forte em seu coração que com certeza ficaria para sempre ali com ele.Mesmo quietinho, em silêncio, lhe daria toda a paz que estava guardada há muito tempo, prestes a abranger o mundo com seu sorriso que continuava infantil.
E já um homem feito trouxe para o seu colo aquela mãe, cansada pelos desencontros da vida e que durante muitos anos esteve perdida, mas que agora havia reencontrado o caminho de casa!
Basta de discórdia, desamor e de omissão.Não é somente Helena que busca a paz.Nós também a desejamos todos os dias, a cada instante com a certeza que ela está muito mais perto que conseguimos enxergar.
Está no coração de uma criança que pode ser simplesmente o nosso próprio filho.
SILMARA RETTI
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